O ônibus, o bêbado e a política brasileira
Uma piada popular pode explicar o que está ocorrendo hoje na política brasileira. Diz o enredo que um bêbado entrou num ônibus super lotado, daqueles que circulam pelas cidades tão cheios, mas tão cheios, que se alguém levantar um dos pés, não consegue pô-lo de volta no lugar.
Durante a viagem o bêbado incomoda as pessoas com seu hálito etílico e palavras desconexas, habituais em quem excedeu na bebida alcoólica e encheu o pote. Todos, inclusive o condutor do veículo estão furiosos e incomodados com o sujeito.
A certa altura do trajeto, o condutor freia bruscamente o veículo causando um enorme alvoroço. O “bebum” quase vai ao chão e irritado xinga o motorista em alto e bom tom. Seu filho da mãe, seu C... (marido que foi traído)!
O motorista resolve tomar uma atitude. Pronto pra briga, para o ônibus, desce, da à volta, entra pela porta traseira fumegante e pergunta: quem é que é C... aqui? Repete se você for homem!
O bêbado sentindo-se ameaçado, e como se saísse de um transe responde ao mesmo tempo em que procura se manter de pé: agora não dá mais pra saber! Com a freada que você deu misturou tudo!
Há pouco tempo era impossível para muitos imaginar o presidente Lula, um metalúrgico sindicalista e fundador do PT - que babava ao vociferar nos palanques como ele mesmo disse - ao lado do ex-presidente Fernando Collor - o caçador de marajás que sofreu impeachment e renunciou e de Renan Calheiros – que renunciou a presidência do Senado para não perder o mandato, sorridentes no mesmo palco. A cena deixa uma pergunta no ar: O que houve?
Após ver as imagens estampadas nos jornais e ler os rasgados elogios do presidente aos dois, tive a sensação de que o ônibus da política brasileira deu uma freada brusca, misturou tudo e todos, e, ninguém consegue mais entender ou separar nada. Se não foi isso que aconteceu, então devo ter tomado um “porre” de democracia e continuo em transe.
Hélio Chaves é analista de suporte da Infoglobo.
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