O último tamoio

Enviado por Jorge Bastos Moreno

O fim de uma geração
Morreu Gilberto Mestrinho, a última das chamadas "raposas políticas", uma espécie que dominou a vida nacional desde a década de 30, teve seu auge nos anos 50 e 60, sobreviveu à ditadura, capengou na redemocratização e é enterrada agora com um dos seus símbolos.

Mestrinho travou com os jacarés e as tartarugas uma verdadeira revolução dos bichos, na busca da sobrevivência, da preservação das espécies. Os jacarés e as tartarugas acabam de vencê-lo. O até pouco tempo inimigo número Um da natureza ganhou projeção internacional numa época em que ecologia, no Brasil, era apenas uma palavra bonita, tanto quanto desenvolvimento sustentável.

Era o bem contra o mal. O boto tuxi do escritor Márcio de Souza contra o Sting.

Mestrinho e a sua estranha teoria de que matar jacaré contribuia para o equilíbrio ecológico. Como na política, Mestrinho foi perdendo o posto e o gosto pelo ecologicamente incorreto e foi ultrapassado no tempo e no espaço por Blairo Maggi. Diante do Blairo Maggi, Mestrinho era um Fábio Feldman.

Na política, Mestrinho, caboclo, ensinava aos cosmopolitas Tancredo e Ulysses, seus companheiros de MDB, partido do qual nunca se afastou, algumas lições. Ulysses guardava as mais sacanas e gostava de repetir duas delas:

1 -- Nunca deixe que o povo te carregue até o palanque. Sempre aparece um engraçadinho para lhe dar uma dedada.

2 -- Se esses marqueteiros fossem bons, quem disputava eleições eram eles.

Mestrinho faz parte de um Brasil que hoje renegamos e do qual queremos nos vingar na figura de Sarney.

Um Brasil de uma cultura diferente, cultura de favores, clientelismo, fisiologismo. Eu não chamaria Sarney de mártir, mas de última opção. A desgraça do Sarney é que seu nome soa como a mais forte e única referência nossa com esse passado.

Mas esse passado foi tão ruim? Certamente que não, até porque dificilmente haverá tempos piores do que o presente. Vivemos a degradação total dos valores, ao mesmo tempo, assistismo uma coisa promissora: certa ou errada, ao combater Sarney, a mídia está se libertando também do seu passado e assumindo o jornalismo isento, independente. Há exageros? Muitos! Mas, sem erros, não se faz revolução. O erro pode estar em transformar Sarney na causa de todos os nossos males. E, ao matá-lo, a gente se esquecer da corrupção, da trapaça, dos mensaleiros, dinheiro na cueca, na mala, na butique e nos cartões corporativos.

Como repetia o velho e sempre recorrente, pelo menos aqui neste espaço, Ulysses Guimarães: Mais difícil do que matar um monstro é remover seus escombros. Sarney não é maior do que os nossos escombros.

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