Reforma da saúde é o maior desafio político de Obama



Estados Unidos: Presidente pressiona, mas Congresso resiste ao projeto
Ricardo Balthazar, de Washington

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou mão nesta semana de seu enorme prestígio pessoal para pressionar o Congresso a aprovar rapidamente seu projeto de reforma do sistema de saúde americano, um movimento que pode ser decisivo para seu futuro político.

A proposta tem gerado grande controvérsia nas duas casas do Congresso, por causa dos custos envolvidos e do seu impacto sobre a frágil economia do país. Integrantes da própria bancada governista ameaçam votar contra Obama, preocupados com prejuízos políticos que temem sofrer se apoiarem o projeto.

O presidente resolveu envolver-se diretamente nas negociações com o Congresso. Chamou dissidentes do seu partido para conversar na Casa Branca, fez pronunciamentos diários sobre o assunto e programou vários eventos para tentar recuperar o controle sobre a discussão, incluindo visitas a hospitais, um debate com eleitores e uma entrevista coletiva ontem à noite.

Obama usou a entrevista para defender o plano e confrontar diretamente seus críticos no Partido Republicano, acusando-os de prejudicar os esforços que o governo tem feito para tirar a economia americana da recessão ao atacar suas propostas.

O presidente disse que seu projeto é crucial para o futuro da economia do país, por causa do estrago que os elevados custos do sistema de saúde tem feito no orçamento do governo federal. "Se não controlarmos esses custos, não seremos capazes de controlar nosso déficit", disse.

Os republicanos são minoria no Congresso, mas tem explorado a discussão do assunto como uma oportunidade para recuperar parte do território que perderam para os democratas nos últimos anos. Pesquisas sugerem que as desconfianças que o projeto de Obama desperta na opinião pública estão aumentando.

Mas o maior obstáculo encontrado pelo presidente é um grupo de democratas moderados que tem peso na bancada governista. Eles tem medo de desagradar os eleitores mais conservadores dos distritos que representam nas eleições legislativas do próximo ano, quando todas as cadeiras da Câmara e um terço do Senado estarão em jogo.

O governo quer ver a reforma aprovada ainda neste ano. Há três projetos sobre o assunto em tramitação em comissões da Câmara dos Representantes e do Senado e Obama espera que pelo menos um deles seja votado até o fim da semana que vem, antes do recesso que paralisa o Congresso todo ano em agosto.

Na campanha eleitoral do ano passado, Obama prometeu ampliar o acesso da população ao sistema de saúde e reduzir os custos do atendimento médico. Cerca de 47 milhões de americanos não tem plano de saúde nem recebem assistência do governo.

Muitas empresas deixaram de financiar os planos de saúde dos funcionários por causa do aumento dos seus custos nos últimos anos. O setor também é uma fonte importante de pressões sobre as contas do governo porque ele custeia o atendimento médico de crianças e idosos.

Obama e seus aliados no Partido Democrata propõem a criação de um novo plano de saúde administrado pelo governo e oferecem subsídios para ajudar trabalhadores e empresas a se adaptar ao novo sistema. Há dúvidas sobre a eficácia do plano. Além disso, o seu custo elevado tem dado munição para os críticos do governo.

Cálculos preliminares sugerem que a receita dos democratas custará mais de US$ 1 trilhão num período de dez anos. Para evitar que ela agrave ainda mais a situação fiscal do governo, os aliados de Obama propõem aumentos de impostos e medidas para reduzir custos do sistema.

A batalha em torno da saúde também poderá determinar o futuro de outras propostas de Obama que encontraram resistências no Congresso, como seu plano de combate ao aquecimento global. A Câmara aprovou um projeto sobre o assunto em junho, mas o Senado pôs de lado o debate sobre o tema para se dedicar à reforma da saúde.

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