Vinho nacional começa a disputar o mercado de luxo
Em sentido horário: Raquel Knies e Antonio Miolo Vinícola Miolo Miolo Espumante Brut Rosé; José Crescêncio e Nédio Mocelin Angelica Zapata Malbec 2002 Porcão, Niterói; Confraria Sui Generis Aguzzo Val de Los Frailes
Bebidas: Miolo, uma das maiores vinícolas do país, está vendendo 3 mil garrafas, a R$ 180 cada, pela internet
Sérgio Bueno, de Porto Alegre
(Do jornal Valor)
Depois de anos de investimentos em melhorias dos parreirais e das tecnologias de vinificação, os vinhos brasileiros de luxo, conhecidos como "superpremium", começam pouco a pouco a ganhar espaço nesse restrito e sofisticado segmento de mercado dominado pelos rótulos importados. Algumas pequenas vinícolas como a gaúcha Lídio Carraro, de Bento Gonçalves, e a catarinense Villa Francioni, de São Joaquim, já nasceram com o foco voltado para esse nicho, mas agora a tendência é reforçada por uma nova aposta da Miolo, uma das maiores empresas do setor no país.
Inspirada no modelo usado pelas vinícolas francesas, a Miolo começou a receber ontem as reservas pela internet para a primeira safra do Sesmarias, um tinto elaborado em 2008 com seis variedades cultivadas na região de Candiota, no sul do Rio Grande do Sul.
As 3 mil garrafas custam R$ 180 cada uma e serão entregues a partir de março de 2010, limitadas a uma caixa por cliente. Outras mil unidades serão vendidas na loja própria em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, no ano que vem, mas por cerca de R$ 250, disse o diretor técnico Adriano Miolo.
"Vinhos como esse são o resultado de 20 anos de trabalho das vinícolas nacionais", afirmou o presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Henrique Benedetti. Segundo ele, os produtos superpremium saem por mais de R$ 60 no varejo e não passam de 3% da produção brasileira, mas estão avançando. Entre as vinícolas que atuam nessa faixa, com rótulos por até R$ 120, aparecem ainda empresas como as gaúchas Salton e Don Laurindo e a catarinense Quinta Santa Maria.
Na Miolo, as vendas no segmento, que até agora reunia onze marcas com preços até R$ 70 a R$ 80 na vinícola, cresceram dez vezes desde 2002, para 300 mil garrafas por ano, e já representam de 15% a 20% do faturamento, de R$ 70 milhões em 2008.
Ao mesmo tempo, o volume total comercializado triplicou e em 2008 a produção somou 7,5 milhões de litros de vinhos e espumantes em Candiota, Bento Gonçalves e Casa Nova (BA). "Embora sobre bases menores, é o segmento que mais cresce", afirmou Adriano.
Segundo o enólogo, o Sesmarias é parte de um investimento de R$ 40 milhões feito em Candiota desde 2001, incluindo a implantação dos parreirais e da unidade de vinificação.
Só na aquisição de barricas francesas de carvalho e de equipamentos como prensas manuais, além da separação de áreas de cultivo destinadas ao novo produto, a empresa gastou cerca de R$ 1,5 milhão.
Conforme Miolo, o novo vinho é produzido desde a fermentação das uvas dentro das barricas, onde depois repousa por 18 meses até o envase.
Os parreirais destinados à elaboração do Sesmarias têm produtividade de quatro toneladas por hectare, metade da média dos demais vinhedos da empresa, para garantir maior qualidade e concentração de elementos como cor e aroma.
A Miolo já preparou a safra de 2009, que será colocada no mercado em 2011 também com vendas pela internet e na loja própria. "Nossa ideia é que, assim como os franceses, o vinho adquira valor de mercado com o tempo", afirmou o diretor. Por enquanto, as vendas ficarão restritas ao mercado interno.
Com 40 hectares de vinhedos em Bento Gonçalves e Encruzilhada do Sul, no sul do Estado, a Lídio Carraro produz apenas vinhos premium (vendidos a partir de R$ 25 na vinícola) e superpremium desde que chegou ao mercado há cinco anos e meio, explicou a diretora de relações internacionais Patrícia Carraro. Os produtos de ponta chegam a custar, como no caso de um tannat 2005 e um nebbiolo 2006, perto de R$ 190 no varejo próprio ou na loja virtual na internet e a produção dos nove a dez rótulos que compõem o segmento oscila em torno de 50 mil garrafas por ano.
A empresa também produz seus melhores vinhos a partir de parreirais com produtividade abaixo de quatro toneladas por hectare, mas trabalha apenas com tanques de aço inoxidável para evitar interferência da madeira no sabor e não faz qualquer tipo de correção enológica, como taninos e acidez, explicou Patrícia. Segundo ela, a propaganda "boca a boca" é uma das principais indutoras de vendas da empresa, que desde o ano passado começou ainda a exportar para a Europa e América do Norte. Hoje o mercado externo absorve 7% das vendas e até o fim do ano deve chegar a 10%, explicou a executiva.
A Villa Francioni estreou no mercado no fim de 2005 com o lançamento de dois brancos e um rosé e hoje tem como produto de ponta um corte tinto de uvas cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot e malbec cultivadas em 50 hectares de vinhedos próprios, informou a presidente do conselho da empresa, Daniela Borges de Freitas. O produto é vendido por R$ 120 na loja virtual da vinícola, que também está preparando o lançamento de um sangiovese com cabernet sauvignon na faixa de R$ 200. "É um projeto de apenas 2 mil garrafas e a venda será limitada", revelou.
Conforme o presidente da Uvibra, a venda de vinhos finos gaúchos, que representam mais de 90% da produção brasileira, aumentou 1,1% nos cinco primeiros meses do ano em comparação com o mesmo período de 2008, para 5,5 milhões de litros, enquanto os importados tiveram alta de 0,8%, para 15,2 milhões de litros. A Miolo cresceu 5,5% no semestre e espera para o acumulado do ano uma expansão de pelo menos 10% sobre as vendas físicas e o faturamento de 2008, segundo o diretor técnico.
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