"Eu sou é frouxo"



Maracutaia no Senado - Segundo o tucano, uma "tropa de choque" foi formada na Casa há duas semanas com o intuito de intimidar o restante do plenário

FOTOS: RAFAEL CAVALCANTE / O ESTADO

Por Bruno de Castro
da Redação

Quem assistiu à discussão de Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL) na sessão da última quinta-feira, 6, do Senado certamente se espantou com a postura incisiva do tucano. O cearense chamou o alagoano de “cangaceiro de terceira categoria”. Renan, por sua vez, classificou Tasso de “coronel de merda”.

Ontem à tarde, porém, o “galego” desconstruiu qualquer imagem de durão idealizada em decorrência do episódio. Diante de uma plateia de aproximadamente 30 prefeitos e empresários, ele disparou, descontraído: “todo mundo sabe que não sou valente. Eu sou é frouxo”. O grupo o visitou em seu gabinete em Fortaleza para prestar solidariedade ao senador. O encontro aconteceu no quintal, debaixo de um cajueiro.

Após a confissão, Tasso justificou o bate-boca dizendo não suportar mais viver num ambiente de ameaças. Isso porque, segundo ele, uma “tropa de choque” foi formada no Senado há duas semanas com o intuito de intimidar o restante do plenário. “Tem momentos em que a gente tem que reagir, porque, senão, é atropelado. Mas espero não repetir aquele espetáculo, porque não é a forma mais elegante de resolver”, pontuou.

O tucano argumentou que o revide a Renan Calheiros aconteceu como forma de “honrar” o eleitorado cearense e os prefeitos aos quais é aliado. Em seguida, comparou a tal tropa aos filmes da máfia italiana. “Tem chefe, subchefe e a turma da pistolagem, que, em geral, é quem aparece mais. Eles vêm para intimidar do ponto de vista moral, intimidar até pelo grito, pela agressão pessoal verbal, intimidar pela pressão de presença física. Todo tipo de coisa tá acontecendo no Senado. A maracutaia dominou o Senado”, denunciou.

Tasso recordou ainda da briga de Renan, Fernando Collor (PTB-AL) e Pedro Simon (PMDB-MG), dias antes, por conta do mineiro defender a renúncia do presidente José Sarney (PMDB-AP). Ele narrou alguns momentos até então não divulgados. “O Simon ficou com medo. O velhinho de 80 anos tomou um susto quando se viu na frente daquela turma toda. Ele se apavorou. E é o sentimento que bate mesmo”, corroborou.

O senador reclamou da falta de compromisso de muitos parlamentares e criticou o número excessivo de suplentes na Casa. Atualmente, são cerca de 30. Alguns, conforme ele, estão lá unicamente para reforçarem a base de apoio ao Governo Federal, mas nunca fizeram campanhas de rua e ocupam as cadeiras devido ao que chamam de “esquemão”. “Esse é um dos cânceres. Aí, o povo pensa: “se senador, que é senador, não presta, imagine os prefeitos”. Esse é o mundo que estou vivendo hoje”, diagnosticou.

Classificando o momento do Senado como “triste” e “dramático”, Jereissati avaliou que as grandes discussões deixaram de existir por falta de comando. Nessa semana, o PSDB decide sobre que rumo tomará em relação aos escândalos envolvendo Sarney. “O presidente Lula está fazendo um grande desserviço ao País ao praticamente endossar o que está acontecendo”, alfinetou.

CEARÁ
No tocante ao futuro do partido no Estado, Tasso garantiu que a chegada de Cid Gomes à presidência do PSB regional não altera as articulações do ninho em compor uma chapa formal com o governador visando 2010. Hoje, o PSDB até participa do Governo, mas reclama mais espaço. “Nós não estamos discutindo aliança. Mas o diálogo com ele nós sempre tivemos”, comentou, reiterando que faltam projetos estruturantes para o Ceará e o Nordeste como um todo.

Indagado se o PT atrapalharia as negociações, o senador rebateu: “ah, não sei. Aí, é problema do PT”. Semana passada, o presidente dos petistas, Ilário Marques, disse ao O Estado que a legenda não fará coligação com os tucanos de maneira nenhuma e, caso Cid escolha o PSDB, a sigla deixa a base.

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