Seção Só Penso Nisso
É possível que eu vá ser repetitivo, mas vamos lá. Já devo ter dito aqui a frase que repito pelo país: ler é mais importante do que estudar. Olha ai: a gente tem que ter muito cuidado com o que diz quando diz uma coisa que pode ser ouvida por muita gente. Há quase trinta anos que tenho andado por este país – que nem o velho Luiz Gonzaga – falando para professores e crianças nas salas de aula e nos auditórios de escolas públicas e privadas. Desde 1980, quando o "Menino Maluquinho" apareceu.
Tenho deitado a maior falação sobre os problemas do ensino fundamental no Brasil. Aí, uma professora vem e me escreve: “Você precisa ter cuidado com o que diz quando diz uma coisa que pode ser ouvida por muita gente”. E continuou: “Por exemplo, você me diz que ler é mais importante do que estudar. Como é que eu faço? Se eles ficarem parados no tempo, a culpa vai ser sua”.
A minha frase, professora, é uma frase de efeito. Foi feita para despertar as pessoas para a questão da leitura no ensino básico, uma frase feita para inquietar, mesmo. Com um detalhe: ela não precisa explicação, meu Deus! Como é que um menino pode estudar se ele não sabe ler, não é capaz de entender um texto, não consegue se expressar escrevendo? É o impasse filosófico do ovo e da galinha: qual dos dois é mais importante? Parece-me que a resposta é óbvia, não?
Estou voltando a falar sobre as questões do ensino porque me parece que, no meio de tantas notícias graves, uma permanece me deixando muito preocupado. Só pode parecer menos grave porque está longe da idéia imediata de morte. Sua gravidade, contudo, é intensa para o país: nossas crianças não sabem ler. Aliás, ninguém sabe ler nesse país!
Postado em 15/9/2009 por Ziraldo
Ziraldo é um velho amigo e companheiro. Um dia, numa viagem a Portugal, intocamos duas garrafas de vinho e uma caixa de salgadinhos e pastéis de Belém, numa Quinta onde nos ofereceram um lauto café da manhã, e fomos de trem, de Coimbra até o Porto. No meio da viagem fomos descobertos pela segurança do Presidente Sarney e do Presidente Mário Soares. Estávamos no trem deles, a trabalho. A segurança queria saber quem eu era, o Ziraldo eles sabiam. Estávamos no último banco do carro destinado à Imprensa. Sarney e Mário Soares queriam alguns dos nossos pastéis de Belém. Só isso. Até hoje não descobrimos quem nos viu acolher o fruto de nossa aventura sob os nossos pesados sobretudos. Em Guimarães fomos à forra. Não deixamos ninguem nos ver comendo um bacalhau fantástico numa das tascas ao lado do Castelo da cidade.
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