Estaleiro é assunto de mais uma audiência polêmica
Governo do Estado e Prefeitura apresentaram seus projetos
Por Bruno Pontes
da Redação
Continua a polêmica naval e política em torno da construção do estaleiro na praia do Titanzinho. O assunto foi discutido ontem em mais uma audiência pública, desta vez na Assembleia Legislativa, atendendo a requerimento dos deputados Nelson Martins e Artur Bruno (ambos do PT), Fernando Hugo (PSDB), Heitor Férrer (PDT), Hermínio Resende (PSL) e Carlomano Marques (PMDB).
O debate foi iniciado com a exposição dos projetos da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Estado para a região do Titanzinho, no Serviluz. O presidente do grupo STX Ltda, Waldemiro Arantes, apresentou a proposta estadual de construção do Estaleiro Promar Ceará. Segundo ele, o empreendimento, orçado em US$ 103 milhões, será de médio porte, alcançando uma área de 300 mil metros quadrados, que, posteriormente, poderá ser expandida para 500 mil metros quadrados.
De acordo com Waldemiro, as empresas construirão uma área de lazer para beneficiar os moradores da região. Além disso, serão oferecidos cursos que capacitem a população local para trabalhar no estaleiro. O salário médio, diz ele, será de R$ 900. Waldemiro também destacou que o estaleiro abre oportunidades para estudantes e professores de universidades e escolas técnicas. Ele assegurou que “o Estaleiro Promar Ceará é ecologicamente correto” e “segue as mais rígidas normas de preservação do meio ambiente”.
DOIS projetos
O gerente do Transfor (Programa de Transporte Urbano de Fortaleza), Daniel Lustosa, apresentou o projeto do Município para requalificar a orla marítima da Cidade, que inclui dois programas: o Aldeia da Praia e o Produtor Nacional Fortaleza, orçados em R$ 266,5 milhões, ao todo. Segundo Lustosa, o planejamento está sendo desenvolvido pela Prefeitura desde 2005, e prevê a requalificação de 60% da orla. “Dentre esse arcabouço de projetos, alguns já estão em execução e outros em desenvolvimento, mas já partindo para execução”. O gerente do Transfor ressaltou que o Titanzinho pertence a uma Zona de Proteção Ambiental tipo 2 (ZPA2), onde qualquer tipo de edificação seria proibida.
Contra e a favor
Observados, aplaudidos e vaiados por manifestantes que ocupavam o plenário e a galeria da Assembleia, os deputados contrários e favoráveis à construção do estaleiro foram à tribuna verbalizar suas opiniões.
Nelson Martins, líder do Governo na Assembleia, disse que não vê conflito entre os projetos do estaleiro e o de reurbanização da praia, “mas sim complementaridade”. No entanto, o petista ressaltou que a decisão cabe aos moradores locais. “Podemos fazer uma consulta e ouvir a comunidade envolvida. Da parte do governador, o que for decidido pela comunidade será acatado”, assegurou.
Fernando Hugo destacou a importância do debate para esclarecer o que é o estaleiro e quais serão os possíveis benefícios que o equipamento trará ao Estado. O tucano observou que os projetos para o Titanzinho e Serviluz “vieram à baila” depois que eclodiu a possibilidade de um estaleiro no local.
Já os deputados Artur Bruno e Cirilo Pimenta (PSDB) defenderam a instalação do estaleiro, mas no Pecém. Citando leis ambientais, Bruno disse que o estaleiro no Titanzinho “não é o melhor para o povo de Fortaleza e não é o melhor para o povo do Serviluz”, já que “praia é área de lazer e turismo”.
O posicionamento da prefeita Luizianne Lins (PT) contra o estaleiro foi atacado por Carlomano Marques: “A prefeita não faz nem quer deixar fazer”. Interrompido por vaias, o deputado mandou um recado para a platéia: “Quero avisar que as hienas ensandecidas não vão me alcançar”.
Suco de maracujá
O secretário estadual das Cidades, Joaquim Cartaxo, observou que a decisão sobre o estaleiro “não envolve apenas a cidade de Fortaleza”, devendo ser discutida num contexto federal: “O projeto faz parte da política de recuperação da indústria naval, do presidente Lula”. Já o presidente da Seman (Secretaria Municipal de Meio Ambiente), Deodato Ramalho, foi incisivo na oposição ao projeto estadual, declarando que “colocar o estaleiro ali é afastar a comunidade do Serviluz do seu mar”.
Depois de elogiar o presidente da Assembleia, Domingos Filho (PMDB), pela condução da audiência (“o senhor é um diplomata”), Fernando Hugo fez um pedido: “Deputado, dê um suco de maracujá ao Deodato, ele está irado”. Domingos riu diplomaticamente.
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