As eleições deste ano trazem uma contradição muito esquisita e que deve ser interpretada com preocupação. O eixo central dos pleitos que se avizinham não está se situando na escolha para presidente, mas nas disputas regionais. Estas conseguem mais mobilização.
O palanque nacional parece esvaziado. Não consegue empolgar e suplantar as disputas estaduais. Falta uma linguagem nacional. As candidaturas a presidente se constroem aqui de cor e jeito, ali de outra forma e nuance. Formam-se autênticas colchas de retalhos. É a própria ideia de unidade nacional para a governabilidade que está em jogo. E isso é grave.
Haja chantagem!
Duas hipóteses podem justificar esse clima. Primeira: esquecemos que as eleições são previstas para dois turnos. Isso deveria significar, no primeiro momento, a demonstração de força de cada agremiação partidária. E, no segundo, a negociação política de um programa de governo feita às claras, aos olhos da nação. Transparente.
Os partidos políticos estão totalmente desfigurados e a reboque de interesses pessoais. Tem donos. Não conseguem viabilizar uma mínima coerência nacional. O oportunismo partidário tenta afunilar o processo, transformando-o em um arranjo plebiscitário: uma disputa centrada em dois polos siameses, o partido azul versus o partido encarnado, sendo os dois peças de uma mesma quermesse paroquial.
Segunda: os marqueteiros estão pasteurizando os candidatos. Eles só falam, só pensam, só criticam ou elogiam aquilo que diretamente traga dividendos eleitorais. Virou um jogo pragmático doentio: feio é perder. Tudo é maquilado. Haja rouge – desculpe, hoje é blush & e, batom.
Sinceramente, você já conseguiu descobrir diferenças essenciais entre Serra e Dilma? Estamos perdendo uma oportunidade de discutir os rumos do Brasil. Crescer para aonde? Para quem? Como? Tomara que esse debate, sem máscaras, ocorra antes de as urnas serem abertas e a gente não venha a comprar gato por lebre.
Antonio Mourão Cavalcante é médico, professor, antropólogo e meu amigo.
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