Opinião do Josias de Souza

AlanMarques-Folha



Sem ser candidato, Lula tornou-se peça central das estratégias de Serra e de Dilma


No leme da campanha de Dilma Rousseff, o PT avalia que começou a fazer água a estratégia eleitoral de José Serra de poupar Lula de críticas.

Na opinião do petismo, boa parte do eleitorado já não faz distinção entre Dilma e Lula. Ao contrário, cresce o número de eleitores que votam nela porque ele a apoia.

Em consequência, o eleitor tenderia a enxergar os ataques que Serra dirige a Dilma como investidas contra o próprio Lula.

Um operador da campanha de Dilma disse ao repórter: A associação da candidata com Lula será ainda mais automática depois que for ao ar a propaganda televisiva.

As peças começarão a ser exibidas em 17 de agosto. Virão impregnadas de Lula. E estabelecerão um vínculo direto entre o “êxito” do governo e o trabalho de Dilma.

Uma tentativa de “anular” o discurso tucano segundo o qual a candidata não disporia de experiência administrativa para presidir o país.

Alheio às teses do petismo, a equipe responsável pelo marketing de Serra mantém inalterada a linha de centrar fogo em Dilma, preservando Lula.

O comitê de Serra guia-se pelo resultado de pesquisas qualitativas. São sondagens feitas em reuniões de grupos selecionados de eleitores.

Nesse tipo de pesquisa, o eleitor é convidado a discorrer sobre temas previamente escolhidos. As discussões viram relatórios, que orientam a campanha.

O tucanato extrai dos grupos duas conclusões. Uma é óbvia: a maior força de Dilma é o fato de ela ser a escolhida de Lula.

Eis a outra: a maior fragilidade de Dilma são as dúvidas que um pedaço do eleitorado ainda tem em relação à capacidade gerencial e política da candidata.

Vem daí a essência do discurso de Serra, resumido num par de frases: “A Presidência não é algo que se possa terceirizar” e “Lula não é candidato”.

Na última quinta-feira (22), Serra levou sua estratégia de campanha às fronteiras do paroxismo. Deu-se numa entrevista à TV Brasil.

Uma das entrevistadoras qualificou Serra como candidato de oposição. E perguntou a ele o que mudaria no governo caso vencesse a eleição.

E Serra: "Não sou da oposição, sou candidato do pode mais e dá para fazer." Na sequência, ele como que subverteu a lógica que a pergunta embutia:

"Você falou em situação e oposição. Eu sou candidato para governar o Brasil no futuro. Não fico nunca jogando no quanto pior melhor...”

“...Pego as coisas que estão funcionando e melhoro. As que não estão funcionando eu corrijo".

Em essência, Serra tenta se firmar como pessoa mais apta do que Dilma para dar continuidade ao que há de “bom” no governo Lula, aprovado por 77% do eleitorado.

É esse discurso que o PT imagina estar esgotado. Em contraposição, o tucanato apega-se a dados da última pesquisa Datafolha para dizer que a coisa não é bem assim.

Realizada entre os dias 20 e 23 de julho, a pesquisa apontou empate técnico entre Serra e Dilma. Ele com 37%. Ela com 36%.

Os dados que chamam a atenção dos operadores de Serra constam do miolo da pesquisa. São os seguintes:

1. Entre os 77% de eleitores que avaliam o governo Lula como ótimo ou bom, 43% dizem que votarão em Dilma. Mas 32% declaram que darão o voto a Serra.

2. No nicho que avalia o governo Lula como regular (19%), a maioria (54%) declara que votará em Serra.

Na propaganda televisiva, o tucanato vai tentar potencializar esses números. O petismo fará o oposto.

Considerando-se as duas estratégias, Lula vai à cena eleitoral de 2010 como personagem central da disputa. Mesmo não sendo candidato.

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