As consequências da seca que atinge a maioria dos municípios nas regiões do Cariri e dos Inhamuns preocupam os trabalhadores rurais, que já estão passando fome e sede, além da falta de uma ocupação, devido às perdas em suas lavouras agrícolas. O quadro é de total desolação, tendo em vista o grande número de pequenos açudes e cacimbas secos. O pouco legume que ainda está armazenado nos quartos de residências ou em pequenos armazens não é mais suficiente para continuar alimentando as famílias. Eles advertem que se a situação ainda perdurar por mais alguns dias, serão obrigados a ocupar o prédio das prefeituras municipais e os estabelecimentos comerciais, em busca de comida.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Crato, Antônio Gama, denuncia que a cada dia a água está ficando mais distante, com os barreiros na Serra do Araripe secando, o que força a população a andar mais de dois quilômetros a pé para pegar água para beber. Gama reclama da falta dos carros-pipas, tanto no Crato Omo em Juazeiro do Norte. Também, os alimentos já estão ficando mais escassos, aumentando o desespero no campo.
Devastação
O ambientalista Zilcélio Ferreira aponta outro problema agravado pela seca: os incêndios florestais no Cariri. Ele denuncia que o fogo tem se espalhado pela maioria dos municípios, destruindo árvores, reduzindo a fertilidade do solo, facilitando o ataque de pragas e ocasionando outros danos ambientais, como a erosão olhos d água e nascentes. O quadro de destruição do meio ambiente também é favorecido pelos proprietários rurais que deixam de preservar a área nativa para fazer as brocas, preparando a terra para o plantio do próximo ano.
O trabalhador rural Pedro Rodrigues de Oliveira, que reside na serra da Minguiriba, zona rural do município do Crato, afirmou que a situação é de calamidade. “Aqui, nós já estamos passando fome e sede. Não temos mais alimentos com suficiência para alimentar nossas famílias. A pouca água que ainda resta temos que pegar a uma distância de até dois quilômetros, a pé com a lata d’água na cabeça, debaixo de um sol causticante.” – depõe o agricultor. Acrescenta que o açude já está secando e como a região não foi contemplada pelo programa de carros-pipas, pelo governo federal, ele teme como ficará a sua situação.
Desolação e tristeza
Na região dos Inhamuns, a situação não é diferente do Cariri. Todo o rebanho de ovinos, caprinos e bovinos já está morrendo de sede e fome. O quadro é de tristeza e desilusão, com carcaças de animais mortos nas propriedades e nas estradas que interligam a sede dos municípios com a zona rural. Os trabalhadores rurais da região denunciam que tanto o governo estadual como o federal, até agora, não fizeram sequer uma cacimba de areia para minimizar a situação. “Ao contrário, o que o governo está fazendo é aumentar o preço do milho. Sacrificando ainda mais o criador na maior seca já vivenciada nos últimos cem anos.” - denuncia o vereador de Tauá, Luis Tomaz.
Em pronunciamento na Câmara Municipal de Tauá, o vereador enfatizou que ”o governo federal está alheio aos problemas da seca e ainda castiga os criadores com a famosa Guia de Transporte Animal - GTA - que cobra uma taxa de até CR$ 1,70 pelo transporte de cada animal de uma propriedade para outra, a fim de fugir da fome e da sede”. Ele anuncia que uma comissão de vereadores de Tauá virá para Fortaleza, nesta segunda feira, “levando na bagagem o maior cadáver social que existe no Nordeste, a seca e a miséria que se perpetua nos Inhamuns”. Justifica que a iniciativa será um grito de protesto e de alerta contra a omissão governamental. (Amaury Alencar, especial para O Estado)
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