
Marcelo Canellas
Estudantes secundaristas vivem querendo me arrancar uma fórmula de farmácia sobre o jornalismo. É que tenho 44 anos e estou, supostamente, na idade de dar conselhos. Qualquer besteira que eu diga tem a atenuante da experiência. Mesmo assim fico constrangido em dizer a um adolescente o que ele tem de fazer para ser jornalista. Eu não tenho a mínima ideia se o que serviu para mim servirá para ele. Eu sou muito indeciso, e precisei fazer um ano de agronomia para ter certeza de que queria mesmo ser jornalista. Não vou aconselhar um garoto a fazer o que fiz; a faculdade de agronomia é importante demais para ser pista de testes de vocações sob suspeita.
Simplifiquemos: quanto você lê? Se você lê muito, pode ser jornalista. Jornalistas que não leem ou leem pouco costumam ser profissionais medíocres, porque a língua é a grande ferramenta de nossa profissão. Para viver da escrita é preciso dominá-la. Mas nem todo mundo que gosta de ler precisa ser jornalista. Então pergunto: você tem uma vontade irresistível de elucidar um acontecimento obscuro, de revelar um fato curioso, de entender o que se passa a sua volta transformar isso tudo em relato inteligível? Então pode ser que você seja um bom jornalista um dia. Embora isso também não baste.
Você é inquieto, curioso, crítico? Você tem apreço pelas minúcias, pelos detalhes que passam despercebidos? Você desconfia das aparências? Se a resposta for sim, você está quase habilitado a se tornar um repórter. Digo quase porque há outra exigência decisiva: a independência intelectual. Jornalista é um sujeito de pensamento livre. Essa nossa profissão não é para vacas de presépio. As redações saudáveis são aquelas em que as divergências de seus profissionais são discutidas abertamente até que a força jornalística de um fato ou de uma cobertura se imponha por si própria. O jornalismo é insubmisso, não aceita encilhamento ideológico. Reportagem com interesse político ou econômico por detrás costuma ser desmascarada pelo próprio leitor, ouvinte ou telespectador, que reconhece o embuste quando há proselitismo demais e reportagem de menos.
Por fim, a pergunta fundamental: você quer mudar o mundo mas tem humildade para saber que não pode fazê-lo sozinho? Você acredita que o ser humano nasceu para ser livre? Então, boa faculdade de jornalismo. Nos veremos por aí um dia nas pautas da vida.
Postado por Wilson Ibiapina, do Pessoal do Blog em Brasilia(DF) e titular do blog www.conversapiaba.blogspot.com
Penso eu - Quem conseguir ler e entender esse texto poderá passar à categoria de leitor deste blog. O Marcelo, tão cedo na idade conseguiu entender a profissão. Amém.
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