Com o PMDB trincado, Temer vai a Dilma nesta terça
Sérgio Lima/Folha
Michel Temer e Dilma Rousseff devem se reunir nesta terça (7) para tentar superar o impasse que trava a definição dos ministros do PMDB.
Convertido em negociador-geral das nomeações de sua legenda, Temer tornou-se um gerente de frustrações.
Desprestigiado por Dilma, o PMDB é, hoje, uma legenda trincada. O próprio Temer passou a ser visto pelo partido como um articulador débil.
As pendências que eletrificaram as negociações na semana passada sobreviveram ao final de semana.
Pior: consolidou-se no PMDB a impressão de que, a essa altura, já não há espaço para a construção de uma saída honrosa para a legenda.
Qualquer seja o resultado das tratativas, o principal sócio da coligação governista vai ao novo governo com o semblante de derrotado.
Vai abaixo um resumo da encrenca que será desfiada na conversa com Dilma:
1. A presidente eleita ofereceu ao PMDB quatro pastas: Agricultura e Turismo para a bancada da Câmara; Minas e Energia e Previdência para a bancada do Senado.
2. Dessas quatro, apenas Agricultura e Minas e Energia, já geridas pelo PMDB sob Lula, foram bem recebidas.
3. Para a Agricultura, os deputados endossaram a permanência de Wagner Rossi, um apadrinhado de Temer.
4. Para as Minas e Energia, os senadores endossram o retorno de Edison Lobão, um senador da cota de José Sarney.
5. Quanto à Previdência, Sarney e seu lugar-tenente, Renan Calheiros, torcem o nariz. Enxergam na pasta um problema, não uma solução.
6. Sob Lula, o PMDB do Senado geria a pasta das Comunicações. Dilma entregou-a a Paulo Bernado (PT). A Previdência é vista como “compensação de grego”.
7. Se Dilma mantiver a intransigência que exibia na semana passada, o mais provável é que ocupe a Previdência o senador Eduardo Braga (PMDB-AM).
8. Porém, mercê da má-vontade de Sarney e Renan, Dilma será cientificada de que Braga, ex-governador do Amazonas, não é garantia de votos no Senado.
9. O Turismo, por sua vez, é considerado pelo PMDB da Câmara como uma compensação mixuruca à pasta da Integração Nacional, perdida para o PSB.
10. Como resposta ao desapreço, a bancada de deputados desistiu de enviar a Dilma uma indicação fechada. “Ela que escolha”, disse um cacique pemedebê ao repórter.
11. Negocia daqui, discute dali, optou-se por enviar a Dilma não um nome, mas uma lista de seis. Pela ordem:
Mendes Ribeiro (RS); Leonardo Quintão (MG), Fátima Pelaes (AP); Marcelo Castro (PI); Pedro Novais (MA) e Almeida Lima (SE).
12. De resto, há a exigência de uma quinta pasta. Algo apresentado pelo próprio Temer, na semana passada, como sua “cota pessoal”.
13. Trata-se de uma tentativa do vice-presidente eleito de encaixar na equipe da titular o amigo Moreira Franco, ex-governador do Rio.
14. No final da semana passada, Dilma oferecera a Moreira, por meio de seu negociador Antonio Palocci, a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos).
15. Embora o titular da cadeira tenha status de ministro, a SAE é, entre todos os postos da Espalnada o mais desprovovido de atrativos.
16. Moreira refugou o posto. No final de semana, autorizado por Dilma, Palocci informou que o cargo seria, por assim dizer, vitaminado.
Informou-se que a SAE agregaria o Conselho Econômico e Social, um colegiado ligado à Presidência que reúne empresários e sindicalistas.
17. Até a noite desta segunda (6), Moreira Franco mantinha-se intransigente. Disse a Temer e a outros lideranças do PMDB que, para a SAE, não vai.
Em conversa com o repórter, um dos “liderados” de Temer classificou a “vitamina” oferecida por Palocci como “bolinha em árvore de Natal”.
18. O blog ouviu um grão-petê da transição. Respondeu: “Se não quiserem a SAE, não terão nada”. Assim, ou Temer convence Moreira ou indica outro nome.
Se Dilma mantiver a corda esticada, é improvável que o PMDB reaja com uma rebelião instantânea. A tendência do partido é a de assimilar o “golpe”.
Dilma vai à cadeira de presidente, porém, com um PMDB que, trancado em seus rancores, ficará à espreita. Na primeira dificuldade, virá o troco.
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