Os fartes de Sobral


Outro dia fui a uma festa, dessas de fim-de-ano e, de repente, uma amiga(D.Denise Sampaio) presenteou-me com um punhado de FARTES trazidos de Sobral. Comentei o assunto com algumas poucas pessoas e uma senhora que já foi casada com um sírio-libanes,disse que aquilo não se chamava fartes e que o nome era...sei lá, qualquer coisa lá, menos fartes.
Não discuto em festa. Aliás, não discuto com mulher porque jamais ganhei uma parada de qualquer delas. Recolho-me à minha santa ignorancia diante de qualquer assunto que elas abordem e vou em frente que a vida é breve.
Por via das dúvidas resolvi não deixar barato o tema e guardei o assunto para este humilde blog, de forma a que se saiba o que fazemos em SObral e como se chama isso. Com um detalhe: Fartes, no Brasil só tem em Sobral.

Para mais de cem talheres
Livro traz receitas e histórias sobre os pratos mais tradicionais do País
Camilo Vannuchi

A feijoada não é brasileira, a comida mineira nasceu em São Paulo e o prato mais sofisticado do Brasil é pato no tucupi. Quem não estiver de acordo precisa ler o livro Viagem gastronômica através do Brasil (Senac, R$ 80). Lançado no sábado 2, pelo veterano jornalista Caloca Fernandes, 64 anos, traz 256 páginas ilustradas e mais de 130 receitas de doces e salgados. Carioca, filho de portugueses, com carreira estabelecida em São Paulo, morando em Salvador há dois anos, Caloca aprendeu a gostar de cozinha entre uma bacalhoada e outra. “Era o almoço em casa, pelo menos uma vez por semana. E o peixe ficava pendurado na porta da cozinha, conforme a tradição lusitana”, lembra.

A influência dos pais foi tanta que Caloca enveredou no ramo da culinária. “Português adora conversar sobre comida. Almoça contando o que comeu na véspera e o que vai comer no dia seguinte”, diz. O trabalho como jornalista especializado em culinária o levou a viajar para provar os pratos mais exóticos de países tão diversos como França e Irã. Faltava uma viagem à cozinha brasileira. “Venho recolhendo informações há 30 anos. Minha pesquisa inclui o resgate de receitas descritas em cadernos antigos, conversas com cozinheiros, degustações e visitas a mercados. Se vejo algum produto desconhecido, provo, compro, pergunto para que serve e como se prepara. É uma espécie de arqueologia culinária”, explica. O arqueólogo, de barriga cheia, faz questão de justificar cada afirmação. Feijoada, por exemplo, já era feita em Portugal antes de 1500. Só não continha feijão-preto, uma contribuição carioca. “Provavelmente, uma escrava percebeu que o feijão marrom tinha acabado e, na hora do aperto, apelou para o preto. Sua senhora deve ter aprovado”, supõe Caloca. Com a mesma precisão, o autor afirma que a comida mineira foi levada para Minas pelos bandeirantes paulistas. Mas vá explicar para o mineiro que o tutu e o torresmo têm outro dono...

Em uma de suas muitas viagens gastronômicas, o autor conheceu um dos alimentos mais célebres da história nacional: o primeiro quitute miscigenado. Caloca Fernandes estava em Sobral, no interior do Ceará, provando queijadinhas, quando a doceira comentou, de passagem, que a vizinha preparava um doce muito gostoso chamado farte. Trazidos pela frota de Cabral, os fartes – ou fartéis – foram os primeiros doces oferecidos aos índios da costa tupiniquim. Caminha relatou o fato ao rei dom Manoel em sua famosa carta. “Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada; e, se alguma coisa provaram, logo a lançavam fora”, diz o texto. Essa espécie de pastel recheado com amêndoas e especiarias parece não ter feito muito sucesso por aqui. Tanto que sumiu do mapa e das mesas. Mas, por incrível que pareça, ainda resiste em Sobral. Apesar de as amêndoas terem sido substituídas pelas castanhas de caju, tão brasileiras.

Fartes de Sobral

(o primeiro doce do Brasil)

Massa
3 xícaras de farinha de mandioca
2 colheres (sopa) de manteiga
1 pitada de sal
1/2 xícara de água morna

Recheio
1/2 kg de açúcar
2 xícaras de água
leite grosso de 1 coco
1/2 kg de farinha de mandioca
250 g de castanha de caju moída
1 colher (sopa) de manteiga
gengibre ralado a gosto
leite de 1 coco grande
2 gemas batidas para pincelar
açúcar cristal para polvilhar

Preparo
1 Para fazer a massa, coloque a farinha numa tigela. Junte a manteiga, o sal e acrescente a água, aos poucos, até obter uma massa que se solte das mãos. Embrulhe em filme plástico e reserve.

2 Numa panela média, ponha o açúcar e a água e leve ao fogo, mexendo sempre até o açúcar se dissolver. Pare de mexer e deixe ferver até obter uma calda.

3 Tire a panela do fogo e adicione o leite dos dois cocos, a farinha, as castanhas de caju, a manteiga e o gengibre ralado. Leve de volta ao fogo brando, mexendo sempre até a colher, ao abrir caminho pelo creme, deixar um rastro no fundo da panela. Deixe esfriar.

4 Abra a massa com um rolo e recorte círculos com cerca de 10 cm de diâmetro (use um pires de café). Adicione uma pequena porção do creme sobre cada círculo, feche a massa e cole as beiradas com uma pincelada de gemas. Distribua os pasteizinhos na assadeira untada e polvilhada.

5 Leve-os ao forno preaquecido em temperatura quente (200o C) até dourarem levemente (cerca de 15 minutos). Tire do forno e polvilhe-os com açúcar cristal. Sirva-os depois de frios.

(preparados por dona Rita de Cássia Cunha, em Sobral, no Ceará)Fartes de Sobral (o primeiro doce do Brasil)

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