Aguaceiro atormenta população de Fortaleza


A Defesa Civil registrou 117 ocorrências, de domingo até as 17 horas de ontem. Em 18 horas, choveu 128 milímetros na Capital
Por Souto Filho
soutofilho@oestadoce.com.br

Os moradores do Morro do Teixeira, no bairro Castelo Encantado, tiveram uma noite de susto. As seguidas chuvas que caíram em Fortaleza, durante a madrugada de ontem, ocasionou deslizamentos, danificando vários barracos e forçando pessoas a saírem de suas moradias. Cerca de 200 moradores residem na comunidade, localizada abaixo de um morro coberto de lixo e entulhos. Segundo os moradores, as caixas de saída de esgoto são as responsáveis pela enxurrada que ocasiona os desmoronamentos.
A casa do jardineiro Batista Alves Ferreira foi uma das mais afetadas. De acordo com ele, por volta das 2 horas, seu barraco foi atingido pela terra trazida pelas águas e destruiu tudo que havia dentro da sua residência. Sofá, fogão, cama e eletrodoméstico não resistiram à enxurrada. Batista revelou que apenas conseguiu salvar uma geladeira e suas ferramentas de trabalho.
“Estou morando de favor em barracos de amigos. Sempre que chove, a comunidade tem que sair de suas casas com medo de desmoronamentos. Perdi quase tudo que eu tinha. Não sobrou nada. Graças a Deus não aconteceu nada comigo. Será que as autoridades só olharão para a gente quando alguém morrer? Aqui, estamos completamente abandonados”, lamentou ele.
As crianças são as que mais correm perigo naquela área de risco. No barraco da dona de casa Diana Félix, localizado no “pé” da encosta, os seus quatro filhos foram retirados do barraco às pressas para não serem atingidos pelo deslizamento, ocorrido na madrugada. O barro trazido pelas águas alojou-se ao lado de sua casa, quase derrubando a parede do cômodo principal.
“Não conseguimos dormir quando chove. Temos que sair correndo para o alpendre de um mercadinho próximo com medo de desabamentos. É uma situação horrível. Todo ‘inverno’ é assim. O lamaçal trazido pela chuva passa em frente a nossa casa. Qualquer dia vai arrastar tudo. Só nos resta rezar para que ninguém saia ferido”, salientou ela.

NÃO É A
PRIMEIRA VEZ
Diana disse ainda que não é a primeira vez que o problema acontece no local. Em 2004, um grande desabamento destruiu sua casa, fazendo com que ela perdesse tudo que tinha. De acordo com ela, a Defesa Civil nunca compareceu ao local, deixando os moradores carentes “à míngua”.
“Infelizmente, não podemos fazer nada. Se sairmos daqui, vamos para onde? A única família que tenho é meu marido e meus filhos. Temos muito medo das chuvas, mas não posso abandonar o meu barraco. Ele já foi destruído uma vez e não quero que isso aconteça de novo”. O pescador Nelson Dinis, marido de Diana, ressaltou que nos períodos de chuva chega a ficar sem trabalhar com medo que os desabamentos atinjam sua família.

BASTA LIGAR 190
O coordenador da Defesa Civil, Alísio Santiago, explicou que o órgão tem parceria Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança, fazendo com que todos os chamados possam ser feitos através do número 190. Após a ligação, a Defesa Civil possui quatro horas para comparecer ao local, sofrendo auditorias no caso do não cumprimento do atendimento. Segundo o coordenador, nenhum chamado foi registrado para aquela área, mas prometeu que mandaria uma equipe para avaliar as condições do local. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), hoje e amanhã, Fortaleza apresentará céu nublado com pancadas de chuva no decorrer do período.

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