Alvo de uma disputa que opõe o PMDB ao PT, a Funasa eletrifica o noticiário político há duas semanas.
Levantamento divulgado pelo repórter Bernardo Mello Franco indica que o caso da repartição não é de política, mas de polícia.
Auditorias realizadas na Fundação Nacional de Saúde nos últimos quatro anos (2007-2010) dão ao órgão a aparência de usina de torrefação de verbas públicas.
Os desvios somam R$ 488,5 milhões. Repetindo: quase meio bilhão de reais. São dados da CGU (Controladoria-Geral da União).
O dinheiro vazou da bolsa da Viúva por vários dutos. Por exemplo: convênios irregulares e contratações mutretadas.
Escoaram também por meio de repasses a Estados e municípios que se abstiveram de prestar contas à União. Em casos assim, a lei veda novas liberações.
Sob Lula, a Funasa tornou-se, a partir de 2005, um reduto do PMDB. Em 2008, o então ministro José Gomes Temporão, filiado ao partido, cutucou a chaga.
Animou-se a declarar que tisnavam a Funasa duas nódoas: “corrupção” e “baixa qualidade” dos serviços.
A ousadia verbal quase custou a Temporão o cargo. Presidia a Funasa nessa época Danilo Forte, apadrinhado do líder pemedebê Henrique Eduardo Alves (RN).
Temporão queria o escalpo de Danilo. O PMDB pegou em lanças, o ministro fechou o paiol e Lula fingiu-se de morto.
Só em abril de 2010 Danilo desocuparia a poltrona. Não foi “saído”. Saiu por vontade própria. Dirigiu-se às urnas. Elegeu-se deputado federal pelo Ceará.
Para o lugar de Danilo, o PMDB impôs a Temporão a nomeação de Faustino Lins, outro apadrinhado do líder Henrique Alves.
Antes de Danilo e Faustino, o PMDB acomodara na Fusana Paulo Lustosa, respaldado pela bancada cearense da legenda.
Revirando-lhe as contas, a CGU atribuiu a Lustosa superfaturameno de R$ 14,3 milhões na montagem de uma TV Funasa.
O malfeito custou a Lustosa o banimento do serviço público pelo prazo de cinco anos.
Por ora, nenhum centavo dos R$ 488,5 milhões que a CGU inscreve na coluna dos desvios retornou às arcas públicas. Aguarda-se o veredicto do TCU.
As decisões do tribunal de contas são passíveis de contrestação judicial. Os processos vão às calendas.
Nomeado por Dilma Rousseff para o lugar de Temporão, o petista Alexandre Padilha esboçou a intenção de levar à bandeja o escalpo de Faustino, o atual mandachuva da Funasa.
Deseja trocá-lo por um petista. Algo que, diga-se, não chega a constituir garantia de restauração da probidade.
Abespinhado, o pemedebê Henrique Alves tocou o telefone para Padilha. Seguiu-se um bate-boca que resvalou no mensalão e resultou em rompimento.
O Planalto interveio. O vice Michel Temer rogou a Henrique Alves que restaurasse as relações com Padilha. Assim foi feito.
Combinou-se que a eventual troca de Faustino seria precedida de negociação entre as duas legendas. Em jogo, um orçamento anual de R$ 4,7 bilhões.
Alguém precisa, urgentemente, intrigar o PMDB com o PT. E vice-versa. Pacificados, manterão intacta a atmosfera de normalidade anormal que infelicita a Saúde.
Do Josias de Souza (Folha.com)
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