Opinião

ÁGUA FRESCA PARA QUEM CHEGA PRIMEIRO NA FONTE

Por Carlos Chagas

Diz o provérbio árabe que bebe água fresca quem chega primeiro na fonte. A derrota de José Serra para Dilma Rousseff fez acender a sede no ninho dos tucanos. Dirão ser muito cedo para traçar estratégias e, mais ainda, para selecionar candidatos à sucessão de 2014. Ledo engano. Já se movimentam os pretendentes, claro que contando com mil e uma incógnitas.

Se o governo Dilma der certo, se alcançar significativos índices de popularidade na esteira de realizações ainda por vir, nada impedirá que a presidente dispute um segundo mandato. Seria o Plano A, para o PSDB: enfrentar uma adversária aparentemente sem carisma. O Plano B ficaria na dependência de uma sofrível performance da atual administração e na decisão de Dilma de não concorrer. Nessa hora, emergiria a candidatura Lula, ainda que arranhada pela hipotética evidência de a sucessora não ter dado certo. Seria o que de pior aconteceria no ninho dos tucanos. Enfrentar o ex-presidente equivaleria a uma disputa quase perdida de ante-mão. Contar que o Lula será esquecido é o mesmo que supor elefantes voando.

A partir dessa equação obviamente inconclusa é que se movimentam os possíveis candidatos da social-democracia cabocla. A começar por José Serra, obstinado na sustentação de que só perdeu duas vezes, podendo ainda disputar mais duas e vencer na quarta, se a experiência do Lula puder repetir-se. O problema é o desgaste político do ex-governador paulista, sem mandato, além de sua idade.

Duas outras hipóteses sedimentam-se frente a frente, à maneira de, com perdão da comparação, dois pistoleiros no faroeste: Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Como alternativa, o governador paulista contará com a chance da reeleição e o senador mineiro, com mais quatro anos de mandato, depois da próxima eleição presidencial. Assim, poderão evitar o embate com o Lula, deixando o sacrifício para José Serra. Mas, se a adversária for a Dilma, penas soltas e bicos partidos encherão o céu, antes da disputa principal. Ou melhor, já podem ser notados na fronteira entre Minas e São Paulo.

Por enquanto é o que se registra, em termos da remota sucessão presidencial, mas vale ficar com os árabes: água fresca é para quem chega primeiro na fonte.

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