Um acúmulo de problemas, atingindo vários aspectos de uma cidade que cresce, de forma desordenada. A combinação trágica de lixo, obras, chuva e pobreza refletem no cotidiano da população, muda cenário, traz riscos e assusta. No último dia 6, quando choveu 135 milímetros em Fortaleza, uma cratera foi aberta na Avenida Abolição. O tráfego no lugar foi bloqueado nos dois sentidos, o que forçou os motoristas a “amontoarem-se” em ruas paralelas. Com isso, a propensão para acidentes aumenta e, hoje, o buraco, que é do tamanho da largura da avenida, tornou-se programa de fim de tarde.
A previsão do Programa de Drenagem Urbana de Fortaleza (Drenurb), órgão responsável pela obra, era de que o tráfego fosse liberado em 72 horas, porém, até ontem, a situação ainda era a mesma. O lugar ganhou uma pequena construção: uma ponte, de aproximadamente 10 metros, que interliga os dois lados abertos pela cratera. A travessia agora é ponto de observatório dos moradores. As intervenções, iniciadas no local em outubro do ano passado, são para reconstruir e ampliar o bueiro sobre o Rio Maceió.
Os motoristas que precisam fazer o percurso no sentido Praia/Centro acessam a rua Manoel Jesuíno, e quem estiver indo no sentido Centro/Praia, a Via Expressa Parangaba é a única opção. De acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), 17 linhas de ônibus tiveram seus itinerários modificados, atingindo mais de 87 mil passageiros. A Avenida Beira Mar também é opção para quem quer chegar ao outro lado da Abolição. O resultado desta alternativa é trânsito intenso, em pleno mês de janeiro, em um dos pontos turísticos mais movimentados da Capital.
CONSCIÊNCIA POPULAR
Trabalhadores, crianças e muitas bicicletas. A ponte construída às margens do Rio Maceió reunia, na tarde de ontem, cerca de 25 moradores. “Venho aqui todos os dias, desde o início da obra. Tinha uma barricada aqui, mas as pessoas que jogam lixo no rio derrubaram. Agora os tratores vão fazer o trabalho de novo”, contava o aposentado Antônio Clemêncio Sousa, que mora na Praia do Futuro. As informações que ele possuía não eram as mesmas ditas por muitos moradores do lugar.
“Nós precisamos tirar a ‘tábua’ que barrava a água, ou íamos morrer afogados. Eu já estava com água no pescoço quando decidiram destruir parte do asfalto”, descreveu a doméstica Tânia Maria Ferreira de Sousa, que mora em uma das casas próximas à obra. Ela garantiu que o lixo acumulado vem “de cima” do rio, provavelmente da comunidade Saporé. “O caminhão do lixo passa aqui três vezes por semana”, citou, justificando a inocência quanto à poluição do rio. “Tenho medo de sair de casa, já perdi muita coisa na última chuva. Se chover mais uma vez e alagar, fico sem sequer uma roupa para vestir”, disse.
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