Tema volta a causar divisões no governo: general que assumiu GSI afirma que o importante é ‘olhar para a frente’
Evandro Éboli, O Globo
No seu discurso de posse, a nova ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, defendeu a responsabilização do Estado pelas violações cometidas pelos militares durante a ditadura. Para ela, essa é uma dívida com os familiares e com os desaparecidos políticos.
Na presença do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que polemizou sobre esse assunto com o antecessor de Rosário, Paulo Vannuchi, a ministra ainda fez um apelo ao Congresso para aprovar a criação da Comissão da Verdade.
— Passados quase 50 anos, é mais que chegada a hora de agir com objetividade. Devemos dar seguimento ao processo de reconhecimento da responsabilidade do Estado por graves violações de direitos humanos, com vistas à sua não repetição, com ênfase no período 1964-1985, de forma a caracterizar uma consistente virada de página sobre esse momento da História do país — disse Maria do Rosário no seu discurso, de 18 páginas.
— Devemos isso às famÍlias daqueles que foram mortos ou estão desaparecidos. Devemos aos que viveram aquele período e empenharam suas vidas generosamente, porque acreditavam na liberdade e na democracia. Eles nos trouxeram até aqui.
A ministra afirmou que “não se trata jamais de revanche” e disse que as Forças Armadas são parte desse processo de superação e de entendimento:
—- Existe também desejo nas Forças Armadas de ter esse processo concluído — disse ela.
Mas, em outra cerimônia de posse, ontem, ficou claro que a posição de Rosário deverá causar divisões no governo Dilma, assim como ocorreu no anterior.
Perguntado sobre a criação da Comissão da Verdade, o novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general José Elito, disse que os militares são servidores públicos e seguirão as orientações do Estado. Mas deixou claro que os abusos devem apenas ser tratados como fato histórico:
— Temos que ver o 31 de março de 1964 como dado histórico de nação, seja com prós e contras, mas como dado histórico da nação. Da mesma forma, os desaparecidos são História da nação, de que não temos que nos envergonhar ou nos vangloriar. Nós temos que enfrentar e estudar, discutir e conversar como fato histórico. Guerra do Paraguai não se fala em pró e contra?
Segundo o general, é hora de olhar para a frente:
— Temos é que pensar para a frente, na melhoria do nosso país para as nossas gerações, e podemos estar perdendo tempo, espaço, velocidade se ficarmos sendo pontuais em situações isoladas do passado.
Rosário, porém, demonstrou outro ponto de vista ao defender a criação da Comissão Nacional da Verdade:
— Somente conhecendo os fatos e reconhecendo os erros é que conseguiremos escrever novas e melhores páginas da nossa História.
Nenhum comentário:
Postar um comentário