Um tucano dadivoso


Alvaro Dias sobre aposentadoria especial: ‘Caridade’

Incluído no rol dos ex-governadores que requereram aposentadoria especial, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) veio à boca do palco para explicar-se.

Declarou que requereu a prebenda, veja você, para promover a caridade. Sim, exatamente. O senador diz que converterá a pensão em óbolo.

Governador do Paraná de 1986 a 1991, Dias refugara o benefício por quase duas décadas. Súbito, decidiu apalpar o que considerava impróprio.

Ao tempo em que chefiara o Executivo paranaense, Dias chegara a enviar à Assembléia Legislativa projeto que extinguia o descalabro.

"O projeto sequer foi votado. Na época não houve nem repercussão, nem apoio", diz agora, em timbre queixoso.

Aposentado retardatário, Alvaro Dias requereu, além da pensão mensal (R$ 24,8 mil), 65 pagamentos atrasados. Coisa de R$ 1,6 milhão. Tudo para a caridade.

Segundo disse, ruminava a intenção de socorrer instituições filantrópicas há quatro anos, desde 2007.

Como bom cristão, preferiu não "alardear" o plano. "Não pretendia fazer propaganda", ele explica.

O governo estadual ainda não deferiu o pedido dos atrasados. Quanto à pensão vitalícia, pinga na conta do senador desde novembro de 2010.

Alvaro Dias assegura que o primeiro naco, equivalente a R$ 24,8 mil, já teve um destino benemerente. Foi repassado a uma creche assentada em área pobre de Curitiba.

Não declinou o nome da instituição, mas informou que dispõe de documentos comprobatórios. Esmiuçou os números: “Com Imposto de Renda, deu R$ 18.673,21. Repasso até os centavos!”

Instado a comentar a intenção da OAB de questionar no Judiciário as aposentadorias especiais de ex-governadores, Dias soou assim:

"Tem político que termina vida política aos 85 anos, pobre, e sem aposentadoria". Parece já considerar normal o que outrora considerava anormal.

Político pobre em fim de linha é coisa rara. Mas, vá lá, pode existir. A pobreza, porém, não torna ninguém especial.

Do contrário, o Estado teria de prover pensões polpudas a todo brasileiro miserável que abriga sua velhice no INSS.

Alvaro Dias talvez não tenha se dado conta, mas os políticos inspiram na sociedade baixíssima taxa confiança.

De resto, o brasileiro confia em tudo, menos na caridade frívola. Se o altruísmo tem origem na política, a desconfiança será ainda maior.

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