“QUE CABÊÊÊÇA!”
Deoclécio Carneiro, o famoso DC da lagoa, nasceu e criou-se lá pras bandas da Parangaba. Menino esperto, não só se destacava nas peladas do campo de areia e nos campeonatos de corte de arraia, mas também era o primeiro em termos de rendimento escolar.
Não foi à toa que o doutor DC migrou da distante Parangaba, portando um número de identidade da OAB, para um espaço de destaque entre a elite concentrada na vasta Aldeota.
Jeitoso desde as fraldas, DC não demorou a montar banca advocatícia de sucesso entre os grandes empresários, e devido a sua habilidade no uso das palavras, talheres e copos, orbitar na vizinhança do poder oficial.
Casado e muito bem instalado numa mansão com piscina, DC recebeu num certo dia de julho uma aparentada vinda do Rio de Janeiro para gozar férias em Fortaleza.
Carioquíssima de sotaque inconfundível, a moça chegou ao cair da tarde, sendo recebida pelo próprio no aeroporto. Seu fenótipo não deixava dúvida: tratava-se de legítimo broto de Ipanema a esbanjar charme e simpatia.
Uma vez em casa, talvez para acabar com a curiosidade de saber o tamanho do biquíni da menina, DC sugeriu um banho de piscina e um uisquinho para tirar o enfado da viagem.
Enquanto a esposa cuidava dos afazeres domésticos, caprichando inclusive no jantar que seria servido à visita, DC deitava e rolava papo pra cima da carioquinha na borda da piscina.
Utilizava uma linguagem juvenil, carregada de gírias, mostrando intimidade com os pontos da cidade onde a juventude se reunia – boates, praias e casas de show - , sem esquecer do fortal que aconteceria dentro de alguns dias.
A moça, encantada com tudo que falava o anfitrião, exclamava: “pôxa, que cabêêêça; que cabêêêça você tem!”
Certo de que estava agradando, DC deitou falação: sobre sexo, deixou o preconceito de lado, e se disse plenamente a favor da união homossexual, além de destacar que para ele qualquer forma de amar vale à pena, pois interessante é o prazer. E a moça entusiasmada, repetia: “pôxa, que cabêêêça; que cabêêêça você tem!”
E assim o tempo foi passando. Conversaram sobre música, culinária, moda, trabalho, viagens... A cada opinião de DC, a moça repetia: “pôxa, que cabêêêça; que cabêêêça você tem!”
A noite chegou, a empolgação do casal era intensa e num momento inesperado pelo doutor DC e sua escultura de Ipanema, a dona da casa, que tudo ouvira e acompanhara, resolveu acabar com a folga do marido charlador. Chegou à varanda e alarmou: “Deoclécio, tá na hora! Traz a tua sobrinha e vem jantar, Ô CABEÇÃO!”...
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