Senadora do PP não exclui hipótese de apoiar a CPI
Waldemir Barreto/Ag.Senado
Filiada ao governista PP, minha amiga, a senadora Ana Amélia (RS) decidiu adotar em relação ao ‘Paloccigate’ uma posição de independência.
Diz esperar que Dilma Rousseff atue com “energia” para estancar a crise que rodeia o chefe da Casa Civil.
Sugere o afastamento temporário de Antonio Palocci até o esclarecimento das dúvidas quanto ao salto patrimonial do ministro.
E afirma que, se o governo responder à crise de modo insatisfatório, considera a hipótese de assinar o pedido de CPI formulado pela oposição.
Nesta segunda (23), em aparte ao colega Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Ana Amélia evocou um episódio ocorrido no governo Itamar Franco.
Jarbas discursava a favor da instalação da CPI. Defendia a saída definitiva de Palocci quando Ana Amélia pediu a palavra.
Ela recordou que, diante de denúncias contra Henrique Hargreaves, seu chefe da Casa Civil, Itamar afastou-o.
Verificada a improcedência das acusações, Hargreaves foi reconduzido ao posto. Para a senadora, Dilma deveria fazer o mesmo com Palocci.
O blog entrevistou Ana Amélia, uma senadora de primeiro mandato cuja atuação tem se pautado pela independência.
Contou que Francisco Dornelles (RJ), presidente do PP e líder no Senado, liberou os senadores do partido para tratar o caso Palocci segundo a própria consciência.
Vai abaixo a transcrição da conversa:
- Cogita assinar o pedido de CPI da oposição?
Creio que há outros instrumentos antes da CPI, que é bem mais desgastante. Está mas mãos da Dilma resolver o problema.
- Por isso sugere a adoção da fórmula Henrique Hargreaves?
Este me pareceu um caso muito didático. Foi adotado no governo Itamar Franco e tem que ser lembrado como uma ação de correção ética na gestão pública. Itamar deu um tiro certeiro. Furou a crise. Afastou temporariamente o então ministro e, apuradas as denúncias, constatou-se que que eram improcedentes. O Hargreaves voltou muito mais forte.
- Acha que o caso que envolve Antonio Palocci é semelhante? Há uma analogia entre os dois episódios. Dependendo da energia com que a presidenta Dilma atuar nesse processo, isso dispensa qualquer outro tipo de providência de natureza política, como é o caso de uma CPI. Espero também uma posição do procurador-geral da República [Roberto Gurgel] para ver se chegamos a uma resposta republicana, correta e transparente sobre essa matéria.
- Considera que o noticiário sobre Palocci enfraquece o governo?
Fui no final de semana a Tapejara. É uma cidade pequena do meu Estado, fica próxima de Passo Fundo [RS]. Participei de uma convenção do meu partido. Levantou-se um médico e me perguntou qual era a minha posição sobre o caso Palocci. Fiquei surpresa. Imaginei que esse tema estivesse apenas na órbita política de Brasília. Verifiquei que a questão já chegou aos confins do Rio Grande. O país inteiro comenta o tema, o cidadão comum se interessa pelo assunto.
- Pode-se dizer que a senhora aguardará as providências da presidente para decidir que atitude irá adotar?
É isso. Aguardo uma atitude incisiva. A Dilma tem a faca e o queijo na mão para agir nesse processo.
- Não lhe parece que o governo já optou por manter o ministro, abafando o caso? Eles sabem que o custo político disso é muito alto. Creio que é preciso refletir.
- Seu partido integra o bloco governista. Isso não limita sua ação? Estou muito satisfeita com a posição do nosso líder, o senador Francisco Dornelles [PP-RJ]. Nesse episódio, como em outros, ele disse que cada senador usará o seu arbítrio para tratar do tema com independência.
- Houve reunião do partido para deliberar sobre a matéria?
Não. Ele conversou com cada senador. Eu votei contra o governo no salário mínimo, a favor dos R$ 600. Fui contra o acordo que beneficiou o Paraguai em Itaipu, porque acho que o contribuinte vai pagar a conta.
- É razoável depreender que, se entender que o caso Palocci ficou mal explicado, a senhora pode assinar o pedido de CPI?
Não há dúvida. Se as atitudes não forem as mais corretas posso, sim, ajudar a viabilizar uma CPI. Não há dúvida.
- Não receia sofrer retaliações?
Quando votei o salário mínimo, disseram que o governo poderia reagir. Houve ameaças. Não tenho medo disso. Não pedi nada ao governo e não devo nada ao governo. Tenho que responder aos meus eleitores e à sociedade gaúcha, que aguarda explicações sobre esse tema.
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