No final de um dia de montanha-russa nas bolsas, uma decisão histórica carimbou o novo cenário de crise. A agência de classificação de risco Standard & Poor's reduziu a nota da dívida pública de longo prazo dos Estados Unidos da máxima AAA para o nível imediatamente inferior, AA+.
Primeiro na história americana, o rebaixamento significa que ao menos uma das três grandes classificadoras de risco não considera mais a dívida americana imune a riscos de calote. A nova nota ainda é a segunda melhor possível, mas fica abaixo de países como Alemanha e Canadá, por exemplo. Essas notas são uma espécie de certificação independente, que chancela a qualidade do crédito dos países, chamado de soberano.
Apesar de ter sido cogitada durante a semana, a decisão incomodou o governo americano, que a considerou equivocada. Na justificativa, a S&P afirmou que "a eficácia, a estabilidade e a previsibilidade das instituições políticas e formuladoras de políticas dos EUA enfraqueceram, num momento de desafios fiscais e econômicos". Segundo o site do The New York Times, as outras duas grandes agências de risco, Moody's e Fitch, informaram não ter planos imediatos de rever a nota da dívida americana.
O rebaixamento só foi divulgado depois que as bolsas de Nova York e de São Paulo viveram ontem sete horas de montanha-russa, com oscilações bruscas e inversões de altas e baixas (veja no gráfico o desempenho da Bovespa).
Fortes variações responderam tanto ao nervosismo dos investidores quanto aos dados sobre a economia dos EUA e a crise da dívida na Europa, mas o pregão nacional fechou o dia com 0,26% de recuperação frente a uma perda acumulada de quase 10% na semana.
— A bolsa fechou com um sorriso amarelo — resumiu Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora.
E mais, avisou que a montanha- russa dos mercados deve permanecer aberta, ao responder com duas palavras sobre o que deve se esperar na próxima semana:
— Mais volatilidade.
O que significa:
> O momento da decisão não poderia ser mais difícil. O rebaixamento inédito tem consequências imprevisíveis num período de nervosismo. Na melhor das hipóteses, aumenta as incertezas da economia global.
> Notas de risco servem para orientar investidores e definir taxas para rolagem da dívida, mas especialistas duvidam que o rebaixamento implique no aumento do custo da negociação de títulos americanos, até pela falta de opções de aplicações seguras.
> No entanto, a redução da nota pode ter efeito cascata sobre outras dívidas públicas de Estados e cidades, além de empresas.
Reunião do G-7 e ajustes na Itália acalmaram mercados:
Embora a especulação permeie as negociações na bolsa, investidores tentam antecipar ou reagem a dados da economia real, que ontem vieram às pencas, até para reagir ao mau humor. Pela manhã, a criação de 117 mil vagas nos Estados Unidos rendeu abertura positiva, mas o alívio foi temporário.
Foi preciso que líderes saíssem da letargia do verão do Hemisfério Norte para domar a instabilidade. Chefes de governo de França, Nicolas Sarkozy, Espanha, José Luis Zapatero, Alemanha, Angela Merkel, Itália, Silvio Berlusconi, Grã-Bretanha, David Cameron, e dos EUA, Barack Obama, falaram por telefone.
No final da tarde, foram anunciadas uma reunião de emergência do G-7, grupo dos países mais ricos (EUA, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá), antecipação do fim do déficit da Itália em um ano, para 2013, e o início da compra de bônus do governo italiano pelo Banco Central Europeu.
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