O que Dilma tem a aprender com Seu Lunga


Nunca um mimo foi tão adequado a um chefe de Estado na história desta nação tropicaliente.

Agora na sua visita a Caruaru, a presidilma recebeu do comunicador Geraldo Freire, da Rádio Jornal –“Pernambuco falando para o mundo”- , cordéis sobre a filosofia de Seu Lunga, folclorizado cartesiano cearense.

Seu Lunga, 83, dono de um ferro-velho no Cariri, é conhecido como o homem mais zangado, austero, impaciente e linha dura do Brasil.

Vizinho e amigo da minha família, na rua Santa Luzia, em Juazeiro do Norte, conheço o modo de pensar e agir do enferrujado comerciante, sempre com o rosto coberto por fuligem, lógica pura e grosseria.

O que Dilma tem a aprender com seu Lunga? Muitíssimo. Geraldo Freire, voz da experiência, sabia disso ao presenteá-la.

Não apenas a presidenta tem o que assimilar deste gênio. Qualquer político. Candidato a vereador, nos anos 90, Lunga enxotava, a vassouradas, eleitores que lhe pediam favores em troca do voto.

No auge do enfezamento, rasgava os próprios santinhos de propaganda e dizia: “Vão votar no diabo, que não tem quem dê jeito na pouca-vergonha da classe política”.

Um sábio da tosqueria.

Certo dia, meu pai testemunhou o justo momento em que ele machucou o polegar com uma marreta. O sangue espirrou longe. O velho Francisco, compadecido com a dor pesada do homem, fez cara e gesto de quem sentia muito.

No que Seu Lunga (o senhor da foto aí abaixo) reagiu: “Que porra é essa, pra que fazer essa cara se não foi com você?! A dor é minha e só eu posso sentir com ela.”

Em um dos cordéis presenteados pelo sábio Geraldo Freire à presidenta, o “Tolerância Zero”, de autoria de Ismael Gaião, outro exemplo do rei do mau-humor:

Seu Lunga tava deitado
Na cama, sem se mexer.
E um amigo idiota
Perguntou, a lhe bater:
- O senhor está dormindo?
Lunga disse: tô fingindo,
E treinando pra morrer!

A dureza de Dilma com os políticos que recebe é cafezinho de repartição diante da filosofia-UFC de Seu Lunga. A mandatária tem muito o que aprender mesmo com este senhor. Veja algumas máximas do dono do ferro velho fã de Descartes:

“Existem três coisas que não se fazem pela metade nessa vida: sexo, favor e faxina”.

“Para viver sem guardar sentimentos ruins no peito, o homem deve ser mais grosso que papel de embrulhar prego no trato com os semelhantes”.

“Quem rouba um alfinete assalta também um palacete”.

Penso, logo existo como um Lunga.

Coitado dos interlocutores da presidenta depois dessa cartilha do Seu Lunga.

Imagina se Dilma adota respostas da escola lunguista para as perguntas dos colegas repórteres de Brasília?!

E você, amigo(a), conhece alguma do Seu Lunga?

Escrito por Xico Sá

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