Quase sempre escondo que aniversario. Muitos anos, quase sempre saio pela aí, fugindo das homenagens, escondendo hora a idade, hora o instante, que vira recolhimento e observação.
Mas hoje, sei lá por quais cargas d’água, entendi de encarar a fera do tempo. Sei lá se são os cabelos brancos, sei lá se foi a presença do neto Paulo, sei lá se foi saber que faz tempo a vida vivida vai subindo a ladeira, a caminho do céu. Sim, do céu. Não conheço ninguém que ache que vai pro inferno e que o inferno seja lá em cima. Eu vou pro céu contar histórias pra Deus. Frescar com a cara dos anjos, discutir milagres com os santos, levar uns leriados com os querubins. Quem sabe até intermediar um ou outro pedido dos amigos ao Criador.
Hoje, 25 de outubro de 2011, entrego tudo. Entrego aniversário, dia mês...o ano não interessa, porque o que interessa a mim é saber que de vez em quando a gente ainda tira fogo em casca de melancia. Mas não estou escrevendo isso buscando propaganda, muito menos enganosa. Escrevo porque esta é minha vida, minha sina, meu valor, meu talento tão pobre de palavras quanto tão rico de desejos de um dia aprender a escrever. Então, escrevo pelas teimosias de ganhar a vida e nela não me perder jamais.
E quando escrevo, escrevo de memória. Não decorei a pauta, não. Guio-me pelo instinto, pela inspiração que dá em mim ao ler cronistas maravilhosos, cronistas vaidosos e sem talento, cronistas que fazem de um beija-flor um jardim, de um pardal uma sinfonia. Sou então, muito mais transpiração que inspiração. Não acredito que saia nada de onde um dia não entrou. Quem escreve leu, ouviu, atendeu, deu, recebeu, rezou. Gozou! Um desses cronistas, ou poeta, até disse um dia que escrevia como quem rezava, com a alma genuflexa.
Ouso agora, com a bandeira a meio pau, cantar meu hino nacional, descortinar, morrendo de vergonha, que escrevi coisas a que chamei de poesia, fiz versos de saudades para mulheres de quem jamais esqueci ou esquecerei. Escrevi livros dos quais não tenho a menor vergonha e novela de que gosto de ter feito porque registrei a vida brasileira. Cantei canções com parceiros que assistiram meu coração desafinado. E bebi um inverno de rio Acarau, onde tibunguei a infância, dei gangapés na juventude e agora, vejo-o passar garroteado pelas lembranças.
Não leia isso aqui até o final. Não é pra interessar uma história pequena de uma vida pequena,que só o dono jura que foi intensa, em todos os sentidos porque tem sido uma vida que ama tudo o que faz, cada vez que faz, sempre que faz seja lá que diabo for. Até fiquei pendendo a esconder isso aqui e deixar pra quando partir, como forma de um registro ligeiro de uma data até certo ponto marcante; o começo de uma idade que alguns imbecis chamam de melhor idade. Melhor idade o cacete! Melhor idade se fossem 20,25, no máximo 30 anos, porque daqui pra frente as coisas poderão começar a dar trabalho,daí os prazeres levados ao máximo como se fossem os últimos.
Registro esta passagem como forma de professorar que ninguém deva se arrepender do que viveu, do que fez, do quanto apostou em cada amor, em cada trabalho e até no amor mentiroso de cada puta, de cada falso amigo, de cada interesseiro bajulador. Tudo isso valeu a pena de viver. Uns causos viraram lembranças engraçadas, outros viraram experiência, todos, porém, ficarão no livro desta vida velha mais ou menos que só interessa ao seu proprietário fazer dela uma coisa interessante para os circunstantes. A mim, sobra o gosto dos desgostos que causei aos que achavam que fariam de mim um ser menor, porque eu os detestaria quando na verdade os amo a todos com cada fibra, cada célula, cada sopro, cada risada dada na gozação de dizer pra dentro:
- Ô bicho besta! Não sabe que eu o amo!.
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