Último a votar no capítulo do mensalão que trata dos responsáveis
pela compra de apoio político no Congresso, o ministro Carlos Ayres
Britto, presidente do STF, foi especialmente draconiano. Referiu-se ao
mensalão como um “golpe” contra a democracia e os valores republicanos.
Ayres Britto mencionou a cifra movimentada pelo esquema: R$
153.748.924,52, em valores da época. Disse que, com esse dinheiro,
compraram-se “consciências” no Congresso, chegando-se a uma “coalizão
argentária e pecuniarizada”, na qual “os acordos se fazem à base de
propina, de suborno, de corrupção.”
Realçou o óbvio: esse tipo de coalizão “é repudiada pela ordem
jurídica do país, pelos seus efeitos superlativamente danosos para os
valores mais cuidadosamente protegidos por essa mesma ordem jurídica.”
Prosseguiu: “[...] Sob inspiração patrimonialista –velha, matreira e
renitente—, um projeto de poder foi arquitetado. Não um projeto de
governo, que é lícito, é quadrienal, é exposto em praça pública, [...]
mas um projeto de poder que vai muito além do quadriênio, um projeto
quadrienalmente quadruplicado.”
Foi além: “É um projeto de poder que, muito mais do que a
continuidade administrativa, é seca e rasamente continuísmo
governamental. Golpe, portanto, nesse conteúdo da democracia que é a
Republica, o republicanismo, que postula a possibilidade de renovação
dos quadros dirigentes e equiparação das armas com que se disputa a
prefência do voto popular.”
Ayres Britto acompanhou o voto do relator Joaquim Barbosa. Condenou
por corrupção ativa o núcleo petista do escândalo –José Dirceu, José
Genoino e Delúbio Soares— e também o núcleo operacional-publicitário
–Marcos Valério, Cristiano Paz, Ramon Hollerbach e Simone Vasconcelos.
Enfatizou que os dados contidos nos autos são fartos e
inquestionáveis: “Esses fatos, esse entrelace de réus, de crimes, de
figuras delituosas, esse imbricamento está documentado, está provado.”
Fez questão de dizer que os direitos dos réus foram respeitados
durante a instrução do processo. Destacou o cuidado com que o julgamento
é conduzido: “Tudo aqui foi feito atomizadamente, individualmente,
passo a passo, reconstituindo-se a materialidade de cada fato e, depois,
fazendo-se a conexão funcional desses fatos para a reconstituição de
episódios, de acontecimentos e, finalmente, a composição de um mosaico, o
tal conjunto da obra.”
Tudo isso feito “tecnicamente, cuidadosamente, com pleno respeito às
garantias constitucionais do processo.” Quanto a Dirceu, Genoino e
Delubio, disse que os próprios depoimentos dos réus converteram-se em
prova de culpabilidade. Lei trechos das respostas dadas pelos três em
inquirições judiciais.
No dizer de Ayres Britto, Dirceu foi o “regente da orquestra”. Era,
“de fato, o primeiro-ministro do primeiro governo, instalado a partir de
2003. Ele deixa c;arop que tudo passava pelas mãos dele. Era
plenipotenciário.”
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