1. O enigma: As urnas de 2012
produziram uma Esfinge. Chama-se Eduardo Campos. O PT avalia que, ao
levar um ‘poste’ do nada para o triunfo de primeiro turno em Recife, o
governador de Pernambuco ameaçou Lula e Dilma Rousseff com um enigma:
decifra-me ou te devoro. Bobagem. Na verdade, o enigma proposto por
Eduardo é outro: devora-me ou te decifro. O PSB do governador vai
ganhando uma musculatura que o afasta do papel de satélite do PT.
Elegera 133 prefeitos em 2000. Saltara para 310 em 2008. Agora, foi a
433. Eduardo ultrapassou as fronteiras de Pernambuco, eis a novidade.
Para desassossego do petismo, passou a ser visto como uma perspectiva de
poder nacional.
2. As montanhas: Ao romper a
aliança que mantinha com o prefeito Márcio Lacerda (PSB), o PT estimulou
Dilma Rousseff a atravessar o Rubicão que se esconde atrás das
montanhas de Minas Gerais. A presidente gritou ‘alea jacta est’,
patrocinou a candidatura do petista Patrus Ananias e foi às lanças.
Enxergava na empreitada uma oportunidade para trincar o projeto
presidencial de Aécio Neves, derrotando-o na sua província. Deu errado.
Bem avaliado, Lacerda prevaleceu no primeiro turno de braços dados com
Aécio. E virou uma opção automática do grão-tucano para o governo do
Estado em 2014. Ficou entendido que Aécio tem muitas debilidades
políticas, mas Minas não se inclui entre elas.
3. O efeito mafagafo: São dois os
males dos partidos políticos: excesso de cabeças e carência de miolos. O
PT sofre da mesma carência. A diferença é que tem uma cabeça só. Na
disputa pela vaga de candidato a prefeito de São Paulo, a legenda
revelou-se um ninho de mafagafos com quatro mafagafinhos. Entre eles
Marta Suplicy. Lula avocou para si a tarefa de desmafagafizador. Empinou
o nome de Fernando Haddad. Levou-o ao segundo turno com a terceira pior
marca de um candidato petista, abaixo da média histórica de votos do
partido na cidade. Fez isso socorrendo-se do prestígio de Dilma. Se
Haddad prevalecer sobre o rival tucano José Serra, Lula repetirá no
município o feito nacional de 2010. Do contrário, arrisca-se a virar na
maior cidade do país um mafagafingo de si mesmo.
4. O bico rachado: A presença de
Celso Russomanno no terceiro lugar do pódio e o excesso de votos
anulados (28,9%) deixou a impressão de que Shakespeare estava pensando
na eleição paulistana quando disse que “não há o que escolher num saco
de batatas podres”. Numa disputa em que esteve ameaçado por um azarão e
foi ao segundo turno roçando cotovelos com um novato, o tucano José
Serra descobriu-se uma liderança fragilizada. Comparado consigo mesmo,
teve um desempenho sofrível –30,8% dos votos válidos. Candidato a
governador em 2006, amealhara na cidade de São Paulo 53,1%.
Presidenciável em 2010, beliscara no município 40,3%. Para se recompor
em cena, precisa distanciar-se de Haddad. Se retornar à prefeitura com
diferença miúda, será um tucano de bico rachado. Uma eventual derrota o
deixaria depenado. Para Serra, o eventual fracasso em 2012 terá o peso
de uma lápide.
5. A lógica fotográfica: Se eleição
fosse feita à base de lógica, em Curitiba faltaria muito material.
Cavalgando duas máquinas, a estadual e a municipal, o governador tucano
do Paraná, Beto Richa, conseguiu levar seu candidato, o prefeito Luciano
Ducci (PSB), à mais vexatória derrota de 2012. Foram ao segundo turno
Ratinho Júnior (PSC), um Russomanno que deu certo, e Gustavo Fruet
(PDT), um ex-tucano que Richa desprezara. O governador aprendeu da pior
maneira um ensinamento clássico: política é como fotografia, se mexe
muito não sai.
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