JORNALISTA, SIM. QUEREM ENCARAR?
Por Marli Gonçalves
Epa, epa, que não estamos gostando nadica de nada desses
arroubos juvenis que estão acometendo os líderes petistas agora
condenados pelos magistrados da mais Alta Corte de um país; por um
acaso, o nosso país. Vamos discutir quem é "urubu", "torturador", ou se
"jornalista bom é jornalista morto"?
Antes, até para
saber onde estamos pisando de verdade, os riscos que corremos,
precisaria fazer uma pergunta a esses líderes petistas que um dia
respeitamos - eu respeitei - mas que jogam sem dó suas próprias
histórias no lixo, alterados, com seus olhos cheios de sangue e ódio:
como é que vocês pretendem reagir? Como vão fazer cumprir a ordem dada
pelo subchefe Zé Dirceu, o número 2? Vão continuar pagando alguns outros
jornalistas treinados para mandar, jogá-los uns contra os outros, até
que realmente ocorra um confronto pessoal? E quanto à Justiça? Como é
que se "reage" à maior instância da democracia? Podemos saber?
Dito isso, sou da paz. Não tenho lado, que esse tempo já foi. Só tenho questões, muitas. Mania de jornalista, entende?
Assim,
antes que amigos ainda ligados ao PT - sim, os tenho - reajam, abro
logo outro flanco, o mais rápido possível. Para dar um cascudo também no
tal coronel tucano que andou tentando intimidar um repórter da Folha,
pelo que consta. Aproveito para perguntar ao governador Alckmin qual
teria sido o "crime" presenciado pelo atual secretário de Segurança, que
é mantido no posto acima de tudo e de todos? Como assim processar o
Fabio Pannunzio pela emissão de opiniões dele, no blog dele, pessoal,
sem patrão, coisa de horas vagas?
Como assim tentar calar os
blogs que, vários jornalistas, mantemos, com dificuldade, ou para
desopilar o fígado ou para mostrar que pensamos além dos quadradinhos da
tevê e das letras diagramadas nos jornais? Neles, a gente paga para
trabalhar e se dedicar, cultivar os leitores. Não temos anúncios. Não
lutamos contra o Poder. Apenas o criticamos. Isso é um direito. Aliás,
um dever - o que esperam de nós, o que sempre fizemos quando éramos mais
respeitados. Não sei se ainda acontece, mas quando consegui o registro
profissional havia um juramento - não calar diante de ameaças a qualquer
pessoa.
É guerra? Já não bastam bandidos atirando em
helicópteros de reportagem? Traficantes matando cinegrafista nos morros?
Fazendo churrasquinho de repórter, como fizeram com Tim Lopes? As
emboscadas aos jornalistas nas esquinas da vida, que crivam de balas
seus corpos? As mortes encomendadas e pagas a pistoleiros. Só neste ano
foram oito mortes. O que nos pôs no topo da lista mundial, quarto lugar,
com mais mortes de jornalistas do que nas guerras do Iraque e
Afeganistão. Uma vergonha.
Precisa vir com gracinha tipo
"jornalista bom é jornalista morto"? - depois dizendo que era "piada",
"modo de dizer", "bom humor"? Foi o que fez um advogado, o do Delúbio. E
você, Genoíno, como pode estar assim tão fora de si, tão desesperado,
para chamar jornalistas de urubus? De torturadores? Você bem sabe o que é
um torturador de verdade! Sabe o horror, o conheceu bem de perto. Não
se xinga de torturador, se este não o for, nem o nosso pior inimigo.
Fica
difícil agora defender você, Genoíno, por quem até há pouco jornalistas
rendiam grandes amores; o procurávamos como fonte para tudo, e você
respondia sempre gentil e sorridente. O que mudou? Mudamos nós, os
jornalistas? Ou mudou você, que todo mundo sabe mesmo que é modesto, que
não pegou dinheiro para gastar com luxinhos? Genoíno, está tão cheio de
rancor, triste porque caiu numa teia partidária que talvez nem tenha
visto ser armada? A gente não tem culpa dessa sua roubada. Fala isso
também para a sua filha, que achei bem bonito quando ela buscou comover.
Por meu pai, faria até mais. Mas, por favor, não a deixe pensando que
foram jornalistas que o levaram a assinar aqueles documentos, fazer
aqueles repasses, organizar as reuniões partidárias.
Deixe-a apenas fazer o senador Suplicy chorar. Nosso showman.
Parem
vocês todos de ameaçar destruir a "mídia", palavra que agora quer dizer
tudo o que faz cosquinha ou passa rasante a quem só quer mandar, não
ouvir.
Não tentem matar- nos nem com balas, nem com palavras, nem
tentando arrancar de nossas cabeças pensamentos ou posições políticas
antagônicas. Esqueçam, porque nunca nos controlarão a todos.
Morre um jornalista, nasce outro. Fecha um jornal, abre outro. A internet é infinita.
E a imprensa, imortal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário