Enquanto isso, no Vaticano...

Dois brasileiros entre possíveis sucessores

Bento XVI nomeou mais da metade dos cardeais participantes do conclave que escolhe novo Pontífice

O anúncio do Papa Bento XVI de que vai renunciar no próximo dia 28 desencadeou especulações e apostas sobre o nome e o perfil do novo Pontífice. Qualquer homem batizado na Igreja Católica é elegível ao cargo, mas, na prática, apenas cardeais foram selecionados desde 1378. Após o Papado conservador de Joseph Ratzinger, há dúvidas sobre se este seria o momento de a Igreja escolher um nome mais jovem ou mesmo um Papa não europeu.
Um aspecto, no entanto, é dado como certo: Bento XVI terá forte influência na escolha de seu sucessor. Ao longo de seus quase oito anos de Papado, ele nomeou 67 cardeais atualmente com menos de 80 anos e, portanto, habilitados a participar do conclave. O número representa mais da metade dos 118 religiosos que participam da seleção do novo Pontífice. Os europeus ainda representam a maioria neste grupo, mas, após críticas, no fim do ano passado Bento XVI nomeou de uma só vez seis cardeais de EUA, Líbano, Índia, Colômbia, Nigéria e Filipinas. O gesto foi visto na época como uma demonstração de que a Igreja não pertence a um único grupo.

Declarações recentes de dois funcionários do Vaticano reforçaram a hipótese de que, desta vez, a América Latina — onde vivem 42% dos católicos — poderia ter alguma chance.

— Conheço muitos bispos e cardeais da América Latina que poderiam assumir a responsabilidade pela Igreja — disse o arcebispo Gerhard Müller, atual ocupante do antigo cargo de Joseph Ratzinger, de chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.

O cardeal suíço Kurt Koch, chefe do departamento do Vaticano para Unidade dos Cristãos, disse ao jornal "Tagesanzeiger" que o futuro da Igreja não está na Europa.

— Seria bom se existissem candidatos da África ou da América do Sul no próximo conclave — opinou.

Na região, dois nomes são citados como os principais candidatos: o do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, visto como um nome conservador, e o do argentino Leonardo Sandri, que agora chefia o departamento do Vaticano para Igrejas Orientais. Do ponto de vista biográfico, Sandri é apontado como uma boa opção por ter nascido na Argentina, mas ter família italiana e ter passado a maior parte de sua carreira no Vaticano. Outro brasileiro citado é o cardeal João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília e prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, ligado à Teologia da Libertação. A favor do Brasil pesa o fato de ser o maior país católico do mundo, onde 64,6% da população praticam a religião.

"Dom Odilo (...) convidou a todos, desde já, a rezar ao Espírito Santo em vista da eleição do novo Papa", disse uma nota da Arquidiocese de São Paulo.
BOLSAS DE APOSTAS

Na ampla lista de candidatos, despontam ainda dois africanos: Peter Turkson, de Gana, presidente do Conselho do Vaticano para Justiça e Paz; e o cardeal Francis Arinze, da Nigéria, de 80 anos. As principais bolsas de apostas britânicas e irlandesas — que ignoraram a hipótese de um nome forte latino-americano — apontam Arinze como favorito, com chance de 25%. Em seguida aparecem Turkson e o canadense Marc Ouellet, encarregado da Congregação dos Bispos.

— É justo dizer que este é o primeiro Papa a ser decidido na plena era de apostas na internet. Não vai competir com a Liga dos Campeões, mas terá retorno suficiente para fazer valer a pena — disse Graham Sharpe, porta-voz da casa de apostas William Hill.

Com as primeiras listas de sucessores na imprensa, começam a surgir detalhes sobre os candidatos. Ouellet, por exemplo, chegou a afirmar anteriormente que ser Papa seria "um pesadelo". De perfil conservador, declarou, em 2005, que a legalização do casamento gay teria consequências negativas impossíveis de prever. Em outro comentário polêmico, o cardeal Arinze disse que um político favorável ao aborto não é apto a receber a comunhão, ao ser questionado sobre o apoio do democrata John Kerry, atual secretário de Estado dos EUA, ao aborto.

Há ainda especialistas que mantêm a expectativa de que o sucessor de Bento XVI será europeu. Neste caso, os nomes mais citados são os do cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão, e o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena. Scola é especialista em bioética e chefe de uma fundação que promove o entendimento entre cristãos e muçulmanos. Já Schönborn é um ex-aluno e um aliado próximo de Joseph Ratzinger.

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