Nó cego. Pra onde o cidadão vai tem um rolo no caminho


Combate à fraude ainda é entrave no transporte público
Bilhete único, que deve ser implantado até junho, no sistema de ônibus na Capital, já está sendo discutido junto às empresas do setor


saraoliveira@oestadoce.com.br

Quantos dos um milhão de usuários de ônibus, diariamente, na Capital, serão beneficiados com o tão discutido Bilhete Único? A nova proposta de integração temporal, que consiste no uso de uma só passagem por até duas horas nas 265 linhas existentes, já está sendo discutida junto às empresas de ônibus. Para que a medida seja colocada em prática até junho – como promete a Prefeitura – será preciso encontrar ações que combatam a fraude. Biometria e controle facial são opções de segurança, mas que ainda destoam da realidade dos cofres públicos.
Deslocamento. Este é o critério do serviço, que deve otimizar o tempo de viagem e não condicioná-la a um dos sete Terminais de Integração.
Hoje, o tempo para que as trocas de linhas aconteçam é de até 30 minutos e apenas 1,9% dos passageiros as utilizam. “Se eu pudesse, na Washington Soares, pegar um outro ônibus direto para cá [Avenida Santos Dummont], acho que meu tempo de viagem cairia de duas horas para 40 minutos”, contabilizou a copeira Diene Andrade. Ela precisa se deslocar da Cidade dos Funcionários à Aldeota e, para isso, precisa ir ao terminal do Papicu para não precisar pagar duas passagens.
Com o Bilhete Único, Diene montaria seu percurso individual e, com mais conexões – com vans e metrô - haveria mais possibilidades de viagens. Mas a combinação entre as linhas, atualmente, é limitada: elas não integram entre si e as 12 mil conexões existentes acabam por não contemplar um grande número de usuários. “Eu até já procurei se dá pra usar alguma combinação, mas não achei. E em 30 minutos é muito difícil, é só olhar o trânsito de hoje”, acrescentou a copeira.
COMBATE À FRAUDE
A limitação de combinações, provavelmente, continuará, apesar de ser em menor proporção, pois representa o entrave à irregularidade. De acordo com o superintendente técnico do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Fortaleza (Sindiônibus), Pessoa Neto, algumas medidas poderão ser utilizadas para minimizar a incidência de fraudes. Definir que as linhas não integrem com ela mesma, ter tempo máximo e mínimo para uso do Bilhete e que os locais de compra não estejam próximos a comércios são exemplos do que pode ser feito.

“Em Natal [RN], calculavam um uso de 60 mil utilizações e acabaram contando um milhão”, exemplificou Pessoa Neto. A disparidade causou um desequilíbrio financeiro e exibiu a ação ilegal de cambistas, que podem até terceirizar a venda de vales-transportes. O Sindiônibus já conversa com a Prefeitura de Fortaleza, no sentido de encontrar formas de coibir as ações dos conhecidos “janelinhas”. “Estamos procurando critérios de implementação”, frisou o superintendente.
Para Pessoa Neto, junho é uma data viável para que o Bilhete Único funcione, e a duração de duas horas não representará empecilho para efetivação junto às empresas. “Temos um sistema interceptado mais maduro, porque a rede já está estabelecida. Mas antes de definirmos um cronograma, temos de estabelecer os critérios. E isto está em plena discussão”, afirmou.
IMPACTO FINANCEIRO
Ainda de acordo com o superintendente, toda integração representa queda de arrecadação, entretanto, o impacto previsto pelo Sindiônibus não é tão significativo. “A não ser que haja fraudes, aí a Prefeitura terá de subsidiar, ou a tarifa poderá ser aumentada”, avaliou. A ilegalidade mencionada por Pessoa Neto pode ser exemplificada: o cidadão possui um vale-transporte e não o utiliza, então vende para alguém por um preço menor do que a passagem. Essa segunda pessoa já repassa o vale mais caro, mas ainda a um valor menor do que a tarifa. A integração poderá possibilitar a repetição deste esquema.

O professor do Departamento de Engenharia de Transporte da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo, destacou a importância da implementação, porém, ressaltou o impacto financeiro. “Quando vejo a promessa, não sei como as empresas poderão arcar. Em São Paulo, por exemplo, a Prefeitura paga R$ 1 bilhão por ano para cobrir a diferença entre o custo e o que é pago pelas empresas”, citou.
BENEFÍCIOS DIRETOS
Mário Azevedo aponta os benefícios diretos da ampliação da integração aos usuários, como fortalecimento dos números de bairros, identificação de maiores demandas e mais possibilidades de conexões. “Se uma linha pudesse ser integrada com ela mesma, isso faria com que as pessoas se interessassem a usar serviços no próprio bairro, sem precisa utilizar os grandes corredores da Cidade”, ponderou.

O professor ressaltou que, mesmo quem não usa o sistema de transporte coletivo, tira benefícios dele. “A pessoa não usa ônibus, mas a secretária da casa sim, ou a vendedora da loja aonde ela vai. Só espero que a medida não tenha impacto financeiro no usuário, que tudo seja equacionado para evitar isso”, afirmou. 
 

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