Agora o Ceará vira exemplo de esculhabação nacional

Obras do Minha Casa têm onda de invasão de sem-teto

AGUIRRE TALENTO
DE FORTALEZA
Sempre que chove, a casa de Adriana Ferreira, 44, fica alagada. Moradora de uma área de risco em Fortaleza, ela diz ter perdido a conta dos escorpiões que viu e dos eletrodomésticos que perdeu nessas enchentes.
Em 2009, a dona de casa achou que seu problema seria resolvido, foi contemplada com uma unidade do conjunto habitacional em construção pelo programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal.
Ministério diz tomar providencias para reintegração
Traficantes invadem e dominam unidades

Carlos Cecconello/Folhapress
Conjunto Habitacional da Bacia do Rio Cocó construído para abrigar famílias cadastradas do projeto do Governo Federal "Minha Casa Minha Vida"
Conjunto Habitacional da Bacia do Rio Cocó construído para famílias cadastradas no projeto "Minha Casa Minha Vida"
Mas até hoje ela não pôde se mudar: o conjunto de 816 unidades foi invadido em outubro de 2012 -entre os invasores estão traficantes, segundo a polícia cearense.
A situação se repete em diferentes cidades: conjuntos habitacionais do governo federal têm sido invadidos antes de serem entregues.
São obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou do Minha Casa Minha Vida, dois dos principais programas da gestão da presidente Dilma Rousseff.
Além do Ceará, a Folha identificou casos na Bahia, Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia e São Paulo-onde um conjunto invadido na zona leste tem até síndicos e é cobrado R$50 de condomínio dos moradores.
As invasões, em geral, são articuladas por movimentos de sem-teto ou por líderes comunitários de bairros próximos. Em casos extremos, há participação de traficantes.
Guilherme Boulos, representante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), diz que a maioria das invasões são de grupos sem organização de entidades nacionais e que o movimento só invade os conjuntos se houver irregularidades nas obras.
As invasões ocorrem com facilidade. Já a saída, não: Caixa Econômica Federal ou prefeituras esperam meses na Justiça a reintegração de posse.
Em Porto Velho, por exemplo, a prefeitura classifica a situação como uma "indústria de invasões". Na cidade, 1.064 famílias invadiram e estão há cerca de um ano em três condomínios do PAC que custaram R$ 30 milhões. Na parede de uma das casas, o recado: "Lotado, tem dono".
Em Teresina, o atraso nas obras de um conjunto com 4.300 unidades incentivou 116 famílias sem-teto a invadirem algumas das casas.
Em Maringá (PR) e em Natal, invasores foram expulsos por decisão judicial e voltaram pouco tempo depois, permanecendo até hoje.
Glaydson Andrade, 26, vive com a mulher e cinco filhos em uma dessas casas invadida em Natal. "Não tinha onde morar. Como vou viver com essas crianças se sair daqui?", disse o desempregado.
Com colaborações em NATAL, PORTO VELHO, MARINGÁ, PORTO SEGURO e TERESINA

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