Questão ambiental e política em discussão
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Não é de hoje que o Parque do Cocó é palco de grandes disputas, que condensam questões de justiça, política e cidadania socioambiental. O caso recente envolvendo a construção de dois viadutos entre as Avenidas Engenheiro Santana Junior e Antônio Sales é emblemático a respeito. No centro da disputa entre ambientalistas, políticos e Poder Público em busca da valorização das suas concepções estão o bem comum natural: o direito coletivo da população que tendem a ser ignorados. Alguém aí conversou com a sociedade?
Na visão do presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), Paulo Henrique Lustosa, a construção dos viadutos na área do Cocó tem remetido a uma questão de natureza política, extrapolando o limite do tem ambiental. Segundo justificou, a discussão deixou de ser de natureza apenas ambiental e passou, a seu ver, para uma questão unicamente política.
“Acho que há uma contradição. Uma discussão sobre a regulamentação do parque, necessidade urgente de legalizar o decreto criando o parque. Acredito que é uma discussão que devemos fazer e que já estamos fazendo”, informa Lustosa, acrescentando que o Governo do Estado já estuda formas de legalização do Parque do Cocó. Por outro lado, argumenta que não se tem como solucionar os graves problemas de tráfegos na cidade de Fortaleza, especialmente na parte leste, sem impacto sobre o Cocó, seja ela: a construção de uma Ponte Estaiada, túneis ou viadutos.
“Todas essas alternativas terão impacto sobre o Parque do Cocó e isso feito numa discussão integrada de impactos faz sentido. O que não faz sentido é amarrar árvores, como se fossem centenárias, porque é uma cena política”, pontuou o presidente do Conpam, destacando que as obras de construção na Avenida Murilo Borges, ou mesmo da Avenida Raul Barbosa trarão impactos ambientais. Acrescentou, ainda, que a construção dos viadutos não tem caráter especulativo, para que valorize áreas da iniciativa privada. Entretanto, reconhece que o Cocó é uma área protegida, mas pontua que a discussão do viaduto não pode ser de natureza imobiliária, muito menos política.
MECANISMOS DEMOCRÁTICOS
Segundo o cientista político Uribam Xavier, da Universidade Federal do Ceará (UFC), a discussão sobre a construção de dois viadutos no Parque do Cocó não se trata de uma questão política ou ambiental, mas, em sua opinião, surge da necessidade do Poder Público adotar mecanismos democráticos de discussão. Conforme explica, no contexto político contemporâneo, onde as coletividades são novos atores, a questão ambiental é um canal de abertura para participação sociopolítica, que abre possibilidade de influência nos diversos estratos da sociedade, inclusive no processo de formação das decisões. Disse, ainda, que os gestores precisam compreender que “são servidores públicos eleitos pelo povo”.
“Não podemos ter uma visão linear e cartesiana da questão ambiental. A questão ambiental é ligada a política. Precisamos pensar nas gerações futuras. Pensar numa forma mais sustentável. Não éramos para discutir construções de viadutos. Seria um bom momento para discutirmos outras formas de mobilidade urbana”, salientou o pesquisador, acrescentando que o Poder Público deveria aproveitar para pensar numa cidade mais ousada, logo porque o modelo em debate já não é mais adotado pelos grandes centros urbanos.
MAIS
O cientista político Uribam Xavier, da Universidade Federal do Ceará (UFC) aproveitou para tecer alguns questionamentos sobre a atuação da Guarda Municipal. Segundo ele, o desempenho da Guarda lembrou ações policiais e, portanto, a seu ver, precisa ser repensada pela gestão municipal.
A FAVOR
• O deputado Lula Morais (PCdoB), além de discordar da ação, aproveitou para dizer que a cidade não pode ficar refém de um pensamento que atrapalha a vida da cidade. Segundo disse, ele concorda com a preservação do Parque do Cocó, mas, entretanto, não pode deixar de concordar com uma obra que irá colaborar com a mobilidade urbana. Relembrou, ainda, que o projeto foi apresentado ainda na gestão de Juracy Magalhães e, inclusive, votou favorável a matéria. “Não podemos impedir que a cidade solucione problemas criados pelo seu próprio desenvolvimento, que é a existência do carro individual”, disse ao jornal O Estado, durante lançamento do Inventário Florestal do Ceará.
CONTRA
• A construção dos dois viadutos na área do Parque do Cocó promete ir parar na Assembleia Legislativa. Pelo menos, é o que quer a deputada Eliane Novais (PSB). Ela já anunciou que solicitará, além da apuração da desocupação da área pela Prefeitura de Fortaleza, também solicitará uma audiência pública para discutir o tema. Ela defender que seja discutidas alternativas para desafogar o trânsito naquela região. Isso porque, conforme explica, ao longo de sua história, cerca de 40% das áreas verdes do Parque do Cocó foram perdidas pela construção civil e pela especulação imobiliária.
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