Dilma não consegue levar moçada da Câmara no velho leriado

Levou a administração no tranco, na base do vai ou racha. Vê-se agora obrigada a administrar um condomínio rachado. A exemplo do que fizera na semana passada, abriu a semana reunindo-se com seus supostos aliados na Câmara. Não conseguiu, porém, reverter a perspectiva de arrostar mais derrotas legislativas.
Após três horas de conversa, a maioria dos apoiadores de Dilma saiu disposta a contrariar a presidente em duas votações: a proposta que torna obrigatório o pagamento das emendas orçamentárias dos congressistas e o projeto que destina os royalties do petróleo para educação e saúde. É como se os parlamentares governistas quisessem ensinar a Dilma que o poder efetivo dela não vai muito além dos quatro andares do Planalto.
Do palácio pra fora, o comando da presidente se dissipa na imensidão amazônica da máquina e no mar de opiniões e interesses que coabitam o Congresso. Até julho, Dilma podia contra-atacar com os vetos. Agora, com a regra que obriga os parlamentares a analisar os vetos presidenciais em 30 dias, ela corre o risco de se desmoralizar se continuar fingindo que faz e acontece. Melhor negociar e tentar atenuar as derrotas.
A votação do orçamento impositivo e dos royalties consta da pauta desta terça na Câmara. A segunda deve ser adiata para quarta. Numa tentativa de abortar a impressão de que ninguém cuida do funcionamento do seu condomínio, a síndica Dilma escalou a ministra Miriam Belchior (Planejamento) para acordar cedo. Ela acenderá as caldeiras do dia numa reunião com líderes na Câmara. E verificará se ainda é possível fazer com que as legendas governistas girem em torno do eixo do governo e ao redor da luminosidade cada vez menos solar de sua presidente.
Miriam esgrime um estudo que aponta oito problemas e supostas ilegalidades que resultariam da aprovação da execução impositiva das emenda$ ao Orçamento da União. Por trás da pregação está a ameaça de um recurso ao STF caso a proposta passe. Os deputados parecem decididos a pagar pra ver. Em relação aos royalties, são basicamente duas as divergências entre Dilma e o pedaço mais rebelde de sua infantaria.
Dilma repisou a tecla da destinação de 100% dos royalties para a Educação. Os deputados insistiram na conveniência de separar 25% para a Saúde. O grosso do dinheiro virá do Fundo Social criado sob Lula para armazenar os dividendos do petróleo. A presidente quer destinar à Educação 50% dos rendimentos desse fundo. Os deputados preferem aplicar 50% de todo o fundo, não apenas dos rendimentos.
Numa conta feita pela assessoria da Câmara, a fórmula de Dilma resultaria num aumento de R$ 25 bilhões nas arcas da Educação em dez anos. A da Câmara destinaria à Educação e à Saúde um adicional de R$ 279 bilhões emu ma década. Haja lábia para a ministra Miriam. Ou Dilma se acomoda em meio aos entrechoques das forças que dizem apoiá-la ou se arrisca a ser governada por elas. Com sorte, os aliados permitem que a presidente continue dando a impressão de que comanda.

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