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O Brasil é um país curioso. Já condenou um intermediário de distribuição
de propina, PC Farias, sem identificar nem os pagadores nem os
recebedores. Já condenou um grupo de políticos e empresários no caso do
Mensalão, em última instância, mas a última instância aqui não é a
última, porque cabe recurso. Por que não criticar duramente os
corruptores (sem, naturalmente, puni-los) e deixar de lado a
investigação a respeito dos corrompidos? Esse tipo de investigação é tão
brasileiro quanto a feijoada, a goiabada com queijo e a pizza à
portuguesa.
E, cá entre nós, quem vai atirar a primeira pedra? Alguns mamutes
empresariais são os grandes financiadores de campanha dos maiores
partidos; e os partidos que não recebem se calam, à espera de sua hora
de glória. Há algum tempo, uma operação da Polícia Federal acertou o
centro do alvo: descobriu-se quem pagava e quem recebia. Mas, por falta
de informações, todos saíram ilesos. Construções de areia são frágeis na
praia. Na vida real, são uma fortaleza, um sólido castelo.
Petistas e tucanos vão se xingar, uns acusando os outros. Mas sabem que
investigação em excesso, como remédio em excesso, faz mal para todos
eles.
O caro leitor também não deve se impressionar muito com a corrupção
investigada no Exterior. A Suíça provou que dirigentes da FIFA receberam
propinas milionárias, mas não aconteceu nada porque isso não era
ilegal. O máximo que aconteceu foi a antecipação da aposentadoria para
dirigentes com mais de 80 anos de idade (antes, quem decidia a data da
aposentadoria era uma Vontade mais alta). Os demais continuam por lá,
mandando muito.
Bernie Ecclestone, da Fórmula 1, enfrenta acusações pesadas. E continua
lá, mandando muito, aos 82 anos. Talvez ele também se aposente. De
qualquer forma, a punição é mais severa que a brasileira. Aqui o pessoal
metido em bandalheiras nem aposentado é.
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