Enquanto seu lobo não vem

Medidas preventivas para proteger fiéis
Os lugares sagrados sempre foram respeitados no passado. Mesmo as populações nômades que tinham o hábito de passar o verão em uma determinada região e o verão em outra, sempre retornavam para aqueles lugares que, segundo elas, eram considerados sagrados. Ali ninguém entrava, a não ser para adorar seus antepassados ou deuses. Com o passar do tempo, estes locais passaram a ser violados. Hoje, com o crescimento vertiginoso das cidades, o que era sagrado, no passado, tornou-se tão profano quanto qualquer outro.
Preocupada com isso, a Igreja Católica, pelo menos, está se preparando para os novos tempos. Pároco da Igreja de São Benedito, que fica na Rua Clarindo de Queiroz, o padre Jackson Frota informa que tudo isso acontece porque o mundo, hoje, está passando por um processo de secularização muito grande. As pessoas, hoje, afirma ele, acham que é normal matar, roubar e agredir a dignidade do próximo.
“Muitas vezes, as pessoas recorrem à Igreja não para se encontrar com o sagrado, mas como uma válvula de escape para uma sociedade doente”. A Igreja, nesse caso, serve como suporte, apenas. Houve um tempo, no entanto, em que as pessoas tinham respeito pela igreja. Qualquer uma. Não precisava ser um templo católico. Hoje, não existe mais isso. Hoje, se o pároco da Igreja do Patrocínio, onde o Pe. Jackson foi entrevistado, colocar um tapete vermelho, na porta principal da igreja, corre o risco de ficar sem ele no final da tarde. Tamanha é a indiferença para o que é do outro.
Segurança Pública
A segurança pública, por outro lado, é insuficiente. A única saída para a Igreja Católica, nesse caso, foi a de garantir a segurança dos templos e de seus fiéis por conta própria. A Igreja do Patrocínio, por exemplo, onde a entrevista com o Pe. Jackson estava sendo feita, possui um bom sistema de segurança. Aqui, diz ele, tem câmera de segurança. São 16 câmeras, afirma,  que funcionam 24 horas por dia. Inclusive à noite. Sistema de alarme contra invasão e vigilantes privados para que os fiéis se sintam mais seguros em seu interior.
Houve um tempo, continua o padre, quando estas medidas ainda não tinham sido tomadas, as pessoas eram agredidas dentro do próprio templo. As pessoas estavam rezando e, de repente, eram importunadas por um dependente químico. Alguém disposto a levar a bolsa do fiel ou de qualquer outro objeto que considerasse valioso.
Na rua, a situação continua a mesma. Como a segurança da igreja não pode ir até a calçada, não é raro celebrar a missa e, de repente, ouvir gritos, na Praça José de Alencar, onde fica a Igreja do Patrocínio, de gente que corre em busca de ladrão. Geralmente, são menores drogados que roubam e correm em seguida.
A violência é tanta, informa o padre novamente, que a igreja do Patrocínio celebrava missa às 7h da manhã e às 17h. Mas como o centro de Fortaleza é muito desprotegido nesses dois horários, as missas, hoje, só são celebradas às 9h e às 15h. Aqueles fiéis que costumavam assistir à missa às 7h da manhã, antes de entrar no trabalho, ou às 17h, quando saíam dele, tiveram que arranjar outro horário.
Catedral
Na Catedral, templo que também fica no centro de Fortaleza, a situação não é diferente. Secretário da Igreja da Sé, Claudemir Holanda, informa que a igreja tem segurança dia e noite. “Aqui, diz ele, a gente tenta fazer o máximo que pode para proteger os fiéis”. Algumas pessoas, quando entram, dizem, segundo Claudemir, que vão pedir ajuda ou coisa parecida. De repente, estão roubando. Foi por causa disso que a Catedral contratou segurança. Alguns deles armados, quando necessário.
Depoimentos Raros
Heloísa Leite visita Fortaleza pela primeira  vez. Natural de Petrolina, Pernambuco, estava na Catedral, visitando o templo e, segundo ela, impressionada. Indagada sobre violência nas igrejas, contou algo espantoso. Em Pernambuco, onde havia nascido, as igrejas de Olinda, certa vez, foram quase todas elas roubadas. Os ladrões, para mostrar que não estavam nem um pouco preocupados com os símbolos da igreja, jogaram as hóstias no chão quando foram embora. Ademílson José de Almeida, de Cuiabá, administrador de empresas, dá um outro depoimento. Em Cuiabá, segundo ele, as igrejas não estavam assim, sendo invadidas pelos ladrões. Havia gradis em torno delas, é verdade, e câmeras de segurança. Mas não roubos como os que ocorrem no Nordeste. A história mais fabulosa foi contada por uma mineira que também estava na Catedral. Natural de Ouro Pedro, Lúcia Pereira disse que as igrejas de sua terra também eram saqueadas de vez em quando. Houve um ladrão, no entanto, que depois de ter roubado uma relíquia de uma delas, sessenta anos depois devolveu a relíquia pedindo desculpas à igreja pelo que tinha feito no passado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário