Nós no Paraguay


Cartes flerta com Dilma e Cristina, mas Mercosul mesmo...nada
JULIETA BRONTÉE E
MACÁRIO BATISTA
ENVIADOS ESPECIAIS A ASSUNCÍON/
COM AGÊNCIAS

O empresário milionário Horacio Cartes prestou juramento, ontem, e tomou posse como presidente do Paraguai. Membro do Partido Colorado, Cartes substituirá Federico Franco como o oitavo governante democrático do país depois da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). A cerimônia foi conduzida pelo senador Julio César Velázquez, presidente do Congresso, e contou com as presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, e Cristina Kirchner, da Argentina – ambas chegaram atrasadas, segundo a imprensa local. Os mandatários do Peru, Uruguai e Taiwan, o príncipe Felipe, da Espanha, e delegações de outros países também prestigiaram o evento, em Assunção.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro não foi convidado para a cerimônia, uma vez que os dois países não têm relações diplomáticas. A Venezuela assumiu a presidência pró-tempore do Mercosul, que caberia ao Paraguai, em julho. O país está suspenso desde junho do ano passado, quando ocorreu o impeachment do presidente Fernando Lugo. A suspensão, oficialmente, foi uma reação ao impeachment, mas, na verdade, não passou de um golpe de Brasil e Argentina para permitir a entrada da Venezuela no bloco.
Determinado a não aceitar a volta do Paraguai ao Mercosul enquanto os venezuelanos estiverem no bloco, Cartes procurou se distanciar de qualquer enrosco diplomático no discurso de posse. Ao citar a presença de Dilma e Cristina na cerimônia, o presidente agradeceu os esforços dos governos brasileiro e argentino em fortalecer as relações comerciais e políticas entre os países. “Não se lembram dos presidentes por nossas diferenças, mas, sim, por nossos esforços”, disse.

vaia para cristina
O público, contudo, não adotou a mesma postura comedida do mandatário e vaiou Cristina quando seu nome foi anunciado, informou o jornal ABC. Faixas contrárias às presidentes e ao uruguaio José Mujica também foram levadas por partidários de Cartes.
Ao falar diretamente com a população, o novo presidente paraguaio afirmou que focará os esforços de seu governo na criação de novas oportunidades de trabalho. “Onde há trabalho, há segurança”, disse. Cartes também criticou os jogos políticos para maquiar a pobreza e prometeu que assumirá o cargo “para servir a população”. “É incrível a quantidade de dinheiro que foi usada supostamente para lutar contra a pobreza, sem nenhum resultado. Não viemos para prolongar os fracassos”, ponderou.
Em determinado momento, Cartes voltou-se para a juventude paraguaia e parafraseou até uma declaração do papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, durante o discurso. “Jovens do meu país, eu não peço paciência a vocês, peço uma rebeldia sã. Jovens, como disse o papa Francisco, se eu não fizer uma boa gestão, protestem” declarou. O presidente também reafirmou o compromisso de garantir “saúde e educação para todos os jovens paraguaios”.

PERFIL
Cartes nasceu em 5 de julho de 1956, em Assunção, capital do Paraguai. É o terceiro de quatro irmãos. Estudou nos colégios Goethe, Internacional e Cristo Rei, e formou-se como técnico em motores de avião em uma escola americana em Tulsa, Oklahoma. Não tinha 20 anos quando começou a trabalhar como vendedor na empresa de seu pai, a Aerocentro S. A.. Passou a investir em vários negócios e tornou-se o principal acionista de cerca de 25 empresas - que atualmente compõem o Grupo Cartes. Separado da mulher, María Montaña, mãe de seus três filhos, o político tem uma mansão em Assunção.
Antes de entrar para a política, Cartes ganhou fama como dirigente esportivo. Entre 2001 e 2012, foi presidente do clube de futebol Libertad. Hoje, Horacio Cartes é um dos investidores mais bem-sucedidos e um dos homens mais ricos do Paraguai. Fundou o agora Banco Amambay e é dono de inúmeras empresas, entre elas uma companhia do setor tabagista, a Tabacos del Paraguay S. A., e uma produtora de bebidas, a Bebidas del Paraguay. Ele diz ter orgulho de manter mais de 20 000 empregos nas empresas de sua propriedade, mas seus rivais tentam ligá-lo ao contrabando, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Ele nega qualquer irregularidade.

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