A volta de Assunção
Além do Mercosul, presidente Horacio Cartes tem outras opções que já indicou estar disposto a buscar de maneira agressiva
Eric Farnsworth - O Estado de S.Paulo
No dia 15 de agosto, a posse do presidente eleito,
Horacio Cartes, oferecerá ao Paraguai a chance de ir além da crise
política e concentrar-se em questões como oportunidades e
desenvolvimento econômico. Também proporcionará à comunidade regional,
ao Mercosul particularmente, a possibilidade de restabelecer e ampliar
cordiais relações políticas e econômicas com Assunção. Entretanto, nada
disso é garantido e tampouco será fácil ou simples de conseguir.
O anúncio de que a presidente Dilma Rousseff estará presente à posse é um sinal importante e oportuno de que o Brasil está disposto a avançar no relacionamento. As relações do Paraguai com os vizinhos permaneceram congeladas desde o impeachment, em 2012, do então presidente Fernando Lugo. Embora a destituição, aparentemente, tenha sido feita de acordo com a Constituição do Paraguai, o país foi suspenso do Mercosul - e também da Unasul - em razão da ruptura democrática.
Entretanto, ao mesmo tempo, as três nações restantes do Mercosul aproveitaram a suspensão do Paraguai para incluir a Venezuela no bloco, decisão à qual o Paraguai se opunha, em parte, em razão das credenciais democráticas da Venezuela. A posse de Cartes proporciona um novo começo e poderá fechar a porta desse controvertido episódio, permitindo a reintegração do Paraguai, embora suas relações com a Venezuela e seu líder, particularmente, devam permanecer difíceis.
Entretanto, o novo governo do Paraguai mostrou claramente certa independência e talvez não mais deseje permanecer atrelado apenas à estrutura do Mercosul. Cartes chega à presidência como empresário influente. Embora seja membro do Partido Colorado, ele é uma personalidade de fora da arena política, que venceu o candidato do partido governista, Efrain Alegre, com 46% dos votos contra 37%, uma margem significativa.
Com o comparecimento às urnas de cerca de 70% dos 3,5 milhões de eleitores registrados, Cartes tem um mandado para atacar a corrupção, fortalecer a economia e melhorar a vida dos seus cidadãos. Na realidade, inicialmente, ele terá de convencer o eleitorado de que não tolerará a corrupção que tradicionalmente assola o Paraguai e também seu partido, além de evitar acusações sobre sua origem que foram feitas durante a campanha.
Os desafios para a reforma do sistema político e o fortalecimento da economia serão assustadores, considerando que o Paraguai é uma das nações mais pobres da América do Sul. Nesse contexto, não surpreende que tanto o governo que está saindo quanto o próximo procurem trabalhar mais ativamente para expandir o comércio e encorajar os investimentos.
Um acordo comercial está sendo negociado com o México. O Paraguai recebeu o status de observador na Aliança do Pacífico, uma iniciativa de integração relativamente nova e ambiciosa que inclui Chile, Colômbia, Peru e México, com outras nações que se declararam dispostas a aderir.
Ao mesmo tempo, a atual presidência temporária do Mercosul exercida pela Venezuela irritou Assunção. A restauração da participação do Paraguai está sendo negociada, mas não há dúvida de que o clima fraterno que existia anteriormente na aliança ficou desgastado. O Paraguai está aberto aos negócios e busca parceiros além dos vizinhos mais próximos.
O líder do PSD no Congresso, Eduardo Sciarra, disse recentemente que os interesses econômicos do Brasil com o Paraguai, no comércio, na economia e na área de energia são demasiado importantes e privilegiados para colocá-los em risco.
De fato, os interesses agrícolas no país são consideráveis e o Paraguai reivindica importantes depósitos inexplorados de petróleo e gás natural na região do Chaco. Em condições adequadas, inclusive um clima econômico internacional favorável, em termos de investimentos e um estado de direito fortalecido, o Paraguai poderia se tornar, segundo alguns observadores, uma "nova Colômbia" para os investidores.
Resta ver se Assunção agora está pronta para retornar ao abraço do Mercosul e em que condições. As feridas levarão tempo para cicatrizar. No meio tempo, a posse de um empresário como novo presidente do país, na quinta-feira, poderá representar uma significativa mudança do jogo. Agora, o Paraguai tem outras opções, que o novo presidente já indicou estar disposto a buscar ativamente e de maneira agressiva. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
O anúncio de que a presidente Dilma Rousseff estará presente à posse é um sinal importante e oportuno de que o Brasil está disposto a avançar no relacionamento. As relações do Paraguai com os vizinhos permaneceram congeladas desde o impeachment, em 2012, do então presidente Fernando Lugo. Embora a destituição, aparentemente, tenha sido feita de acordo com a Constituição do Paraguai, o país foi suspenso do Mercosul - e também da Unasul - em razão da ruptura democrática.
Entretanto, ao mesmo tempo, as três nações restantes do Mercosul aproveitaram a suspensão do Paraguai para incluir a Venezuela no bloco, decisão à qual o Paraguai se opunha, em parte, em razão das credenciais democráticas da Venezuela. A posse de Cartes proporciona um novo começo e poderá fechar a porta desse controvertido episódio, permitindo a reintegração do Paraguai, embora suas relações com a Venezuela e seu líder, particularmente, devam permanecer difíceis.
Entretanto, o novo governo do Paraguai mostrou claramente certa independência e talvez não mais deseje permanecer atrelado apenas à estrutura do Mercosul. Cartes chega à presidência como empresário influente. Embora seja membro do Partido Colorado, ele é uma personalidade de fora da arena política, que venceu o candidato do partido governista, Efrain Alegre, com 46% dos votos contra 37%, uma margem significativa.
Com o comparecimento às urnas de cerca de 70% dos 3,5 milhões de eleitores registrados, Cartes tem um mandado para atacar a corrupção, fortalecer a economia e melhorar a vida dos seus cidadãos. Na realidade, inicialmente, ele terá de convencer o eleitorado de que não tolerará a corrupção que tradicionalmente assola o Paraguai e também seu partido, além de evitar acusações sobre sua origem que foram feitas durante a campanha.
Os desafios para a reforma do sistema político e o fortalecimento da economia serão assustadores, considerando que o Paraguai é uma das nações mais pobres da América do Sul. Nesse contexto, não surpreende que tanto o governo que está saindo quanto o próximo procurem trabalhar mais ativamente para expandir o comércio e encorajar os investimentos.
Um acordo comercial está sendo negociado com o México. O Paraguai recebeu o status de observador na Aliança do Pacífico, uma iniciativa de integração relativamente nova e ambiciosa que inclui Chile, Colômbia, Peru e México, com outras nações que se declararam dispostas a aderir.
Ao mesmo tempo, a atual presidência temporária do Mercosul exercida pela Venezuela irritou Assunção. A restauração da participação do Paraguai está sendo negociada, mas não há dúvida de que o clima fraterno que existia anteriormente na aliança ficou desgastado. O Paraguai está aberto aos negócios e busca parceiros além dos vizinhos mais próximos.
O líder do PSD no Congresso, Eduardo Sciarra, disse recentemente que os interesses econômicos do Brasil com o Paraguai, no comércio, na economia e na área de energia são demasiado importantes e privilegiados para colocá-los em risco.
De fato, os interesses agrícolas no país são consideráveis e o Paraguai reivindica importantes depósitos inexplorados de petróleo e gás natural na região do Chaco. Em condições adequadas, inclusive um clima econômico internacional favorável, em termos de investimentos e um estado de direito fortalecido, o Paraguai poderia se tornar, segundo alguns observadores, uma "nova Colômbia" para os investidores.
Resta ver se Assunção agora está pronta para retornar ao abraço do Mercosul e em que condições. As feridas levarão tempo para cicatrizar. No meio tempo, a posse de um empresário como novo presidente do país, na quinta-feira, poderá representar uma significativa mudança do jogo. Agora, o Paraguai tem outras opções, que o novo presidente já indicou estar disposto a buscar ativamente e de maneira agressiva. / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA
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