A quem interessa a PF sucateada?
Punidos por combaterem a corrupção, Federais vão às ruas com mordaças! »
Nos
últimos anos as competências da Polícia Federal têm sido repassadas ao
Exército e Força Nacional. Recursos públicos previstos nas leis
orçamentárias não são investidos no órgão. E os policiais responsáveis
pelas pesquisas, análises e execução das investigações, taxados de
rebeldes pelo Governo Federal, estão sendo perseguidos, com os salários
congelados há 05 anos, e vítimas de uma política de gestão direcionada
para a desmoralização funcional.
Num
modelo inspirado no FBI, durante a década de 90, a previsão legal do
requisito de formação universitária para todos os policiais federais
representou um avanço para a polícia brasileira. Começava a mudar o
modelo de polícia herdado do Império, onde ocorria a concentração dos
rumos da investigação na pessoa do delegado. Até então, a prova
produzida era baseada em interrogatórios, muitos deles com violação aos
direitos do cidadão. Um mecanismo de polícia ainda ativo, criado para
manter a estrutura coronelista de poder.
Mas
algo inesperado aconteceu na PF. Ao se juntar investigação e formação
científica do policial, ocorre o desenvolvimento da inteligência
policial e da análise criminal, e esse novo método de investigação não
se adaptou ao antigo sistema de controle político da polícia. Em equipes
formadas por engenheiros, biólogos e sociólogos, a investigação se
tornou científica, e como criar filtros políticos ou critérios seletivos
se a metodologia é objetiva?
Com
as grandes operações contra a corrupção na última década, a atuação da
Polícia Federal conquistou a população, mas abalou setores do Governo. A
direita sempre achou conveniente um modelo de polícia burocrático e
ineficiente, projetado para criminalizar os marginalizados de uma
sociedade injusta. Mas a esquerda, agora no poder, concluiu que
precisava engessar a PF de maneira discreta, controlando quais
investigações deveriam prosperar.
O
método escolhido para sucatear a PF foi perfeito. Primeiro, dividir
para conquistar, beneficiando apenas as categorias de delegados e
peritos. Depois, congelar os salários e retroceder os avanços
científicos conquistados pelos demais policiais federais. Enquanto os
cargos de chefia estariam ocupados por pessoas de confiança, indicadas
politicamente, a grande base de policiais se rebelaria, e estaria gerada
a atual e conveniente crise interna da PF.
Em
2002, por coincidência ou não ao início do Governo Lula, um agente
federal recebia uma remuneração similar ao oficial da ABIN, ao auditor
da Receita, ao especialista do Banco Central ou aos fiscais e demais
cargos com requisito acadêmico para ingresso, no exercício de atividades
típicas de Estado e estratégicas para o país.
Mas
nos últimos 08 anos o Governo Federal iniciou um processo silencioso de
desvalorização do policial federal em relação às demais carreiras
federais. E hoje, depois de 05 anos sem a recomposição da inflação, um
agente federal recebe um subsídio bruto inicial que equivale
praticamente à metade das demais carreiras típicas, muitas delas com
quem atua de forma conjunta no combate ao crime.
Uma
grande parcela dos agentes federais saiu da iniciativa privada e
ingressou na Polícia Federal, ignorando o risco de vida inerente à
função, muitas lotações em locais distantes e mal estruturados e as
jornadas de trabalho irregulares. Hoje se arrependem e estudam para
deixar o órgão, pois com o atual arrocho salarial, se estivessem nos
empregos de origem, conseguiriam manter suas famílias com um melhor
padrão de vida.
Não
bastasse o congelamento salarial, a atual gestão da Polícia Federal,
monopolizada pelos cargos de delegado e perito, tem promovido um
conjunto de medidas para desvalorizar os demais cargos. Para tanto, em
todas as discussões de novos normativos ou leis que tratam da carreira,
os representantes sindicais dos cargos de agente, escrivão e
papiloscopista são excluídos, e gradativamente funções complexas estão
sendo diminuídas.
Além
disso, em todas as unidades da PF, existe uma diretiva de gestão que
atualmente persegue aqueles que já participaram da última greve.
Servidores com ampla capacitação e experiência são castigados através de
missões em regiões inóspitas, e são retirados de setores de
investigação, muitos deles com operações complexas em andamento, para
trabalharem em setores burocráticos, como castigo.
Pesquisa recente da Federação (visualizada AQUI)
aponta que 30% dos policiais desses cargos já sofreu distúrbios
psíquicos por conta do ambiente de trabalho. Praticamente 70% do efetivo
dos cargos que são perseguidos atesta que a PF afetou a sua saúde, e o
mesmo índice, 70%, afirma que esaria disposto a mudar de carreira. Quase
80% dos participantes declarou que não recomendaria a carreira na PF
para um amigo ou parente.
Os
cargos de agente, escrivão e papiloscopista da PF, todos de nível
superior, continuam a ser preenchidos pelos concursos. Mas os novos
servidores permanecem pouco tempo no cargo, e migram para carreiras mais
valorizadas, fugindo de um ambiente de trabalho que se tornou um
pesadelo, desconhecido da população brasileira.
Relatórios oficiais do Ministério do Planejamento (dados visualizados AQUI)
atestam que 105 agentes federais abandonaram a PF no ano passado. Se
contarmos as aposentadorias, no último ano 215 agentes federais deixaram
a Polícia Federal. “Quem está na ativa busca carreiras mais valorizadas, e quem já possui condições de se aposentar não espera um segundo a mais”, afirma Jones Leal, presidente da Federação que congrega mais de 13 mil policiais.
A federação está realizando entre os dias 16 e 21 uma pesquisa na sua base de 13 mil sindicalizados (clique AQUI para
ver detalhes). O objetivo é avaliar a interferência política nas
investigações da Polícia Federal, através de um questionário que analisa
a manifestação de milhares de policiais federais. Ainda nessa semana
será criado um serviço nacional de denúncias de improbidade, que
direcionará os relatos para o Ministério Público Federal.
Seguindo
uma agenda política progressiva, os sindicatos da PF promoverão atos
públicos e paralisações crescentes, onde os policiais utilizarão
mordaças, e o foco é conscientizar a Sociedade, com o apoio de outras
entidades, como o Ministério Público, a Controladoria-Geral da União e a
Ordem dos Advogados do Brasil. Nesta semana a federação e sindicatos da
PF vão promover paralisações e atos públicos no Distrito Federal e nos
estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. A agenda da próxima semana,
incluindo os estados onde serão realizados os novos atos públicos, será
decidida em videoconferência nos próximos dias.
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