Campanha de desarmamento: era tudo uma cavilosa bandidagem

A Operação Vulcano da Polícia Federal (PF), deflagrada ontem, em Feira de Santana (BA), para desarticular uma organização criminosa acusada de fraudar o programa “Campanha do Desarmamento”, do Governo Federal, prendeu, em Fortaleza, o coordenador do Movimento Internacional Pela Paz e Não-Violência (MovPaz), Clóvis Nunes, apontado como líder da quadrilha. Da Capital cearense, ele foi conduzido, à tarde, ao município baiano, onde seu irmão, Carlos Alberto Nunes, também foi preso. Estima-se que o golpe, envolvendo supostas entregas e, posteriormente, indenizações de 8.000 armas, causou um prejuízo de cerca de R$ 1,3 milhão aos cofres da União.
Durante a investigação, que conforme o delgado Val Gular, titular do Posto da PF em Feira de Santana, teve início após uma denúncia remetida à Superintendência Regional da PF, na Bahia, pela Divisão Nacional de Armas do Departamento de PF, em Brasília, foi descoberto que o grupo inseria dados de armas inexistente no sistema Desarma, do Ministério da Justiça, bem como cadastrava armas artesanais como se fossem de fabricação industrial, para garantir guias de pagamento, que variavam entre R$ 150,00 e R$ 400,00, a depender do calibre do armamento. 
SENHA DA POLÍCIA
“Foi detectado que Feira de Santana teve uma arrecadação de 14% das armas do País na Campanha do Desarmamento. Na investigação, descobrimos que os irmãos Nunes conseguiram obter a senha do comando da Polícia Militar de Feira de Santana, que passou de forma errônea a senha a eles”, explicou o delegado.
O coronel da Polícia Militar, Martinho, que foi comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar de Feira de Santana, responsável pela guarda da senha do sistema Desarma e repasse à dupla, também foi conduzido ao posto da PF, ontem. Segundo o delegado, “a investigação não apontou a participação dos militares e eles não aferiram lucro nenhum com a fraude”. O coronel Martinho foi preso por porte ilegal de arma, já que durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão em sua residência, ontem, foi encontrado um rifle 44 sem documento.
PROCEDIMENTOS
De acordo com a PF, ao todo, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão, seis mandados de prisão temporária e cinco mandados de condução coercitiva, nas cidades de Feira de Santana, Cícero Dantas (BA), Antas (BA) e Fortaleza, todos expedidos pela 2ª Vara Federal de Feira de Santana/BA.
Preso em Fortaleza, por volta das 6h, Clóvis seguiu para o município baiano às 13h e às 17h, chegou ao Posto da PF em Feira de Santana. Ele será conduzido, junto ao irmão, ao Presídio Regional da Cidade, onde deverão ficar detidos durante cinco dias. “Caso não vejamos necessidade de prorrogar a prisão temporária, já que temos muitas provas contra eles, eles aguardarão o julgamento em liberdade. O Ministério Público Federal deverá fazer a denúncia e eles responderão na Justiça Federal” afirmou o delegado. 
De acordo com Val Gular, estima-se que a fraude era executada há um ano e 10 meses. No processo, eles serão acusados, segundo a PF, de “peculato doloso, peculato eletrônico, formação de quadrilha e ainda enquadrados em alguns artigos da Lei do Desarmamento”.
Em contato com o comando da Polícia Militar do Ceará para alertar sobre a aplicação do golpe, já que, há três meses, o MovPaz abriu uma Casa da Paz em Fortaleza para recolhimento de armas, o delegado contou que a PM cearense assegurou que, no Estado, a senha não foi repassada a ele. “A Polícia garantiu que as armas recolhidas são levadas para o Comando e lá é gerado o protocolo. Das 88 armas que foram entregues, em Fortaleza, eles disseram que nenhuma era artesanal”, garantiu.
RESPOSTA
Em nota, a ONG MovPaz Fortaleza esclareceu que “não guarda qualquer relação com tal acontecimento, bem como não tem conhecimento dos fatos que ensejaram o cumprimento dos mandados em Feira de Santana”. A nota diz ainda que “não é possível emitir qualquer juízo de valor sobre os apontamentos realizados, haja vista que o processo não chegou ao conhecimento da entidade localizada na Capital cearense”.
Ainda na nota, o MovPaz Fortaleza ressaltou que Clóvis, membro do Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP), coordenador Regional Nordeste da Campanha do Desarmamento e diretor administrativo do Projeto ‘Por um Mundo Sem Armas’, da Rede Desarma Brasil é “uma pessoa íntegra”, “motivos pelos quais  não há razão para se duvidar de sua conduta, pois sempre pautou suas ações no bem à população e no desenvolvimento da cultura de paz em nosso território”.
CASA DA PAZ
O MovPaz destacou também que o Posto de Entrega Voluntária de Armas da Casa da Paz Fortaleza, localizado na Rua General Silva Junior, 154, bairro de Fátima, inaugurado em agosto deste ano, recebeu até ontem 88 armas de fogo e 583 munições. O local segue funcionando normalmente, das 9h às 12h e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira.
THATIANY NASCIMENTO
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