A falta de cimento nas fábricas
preocupa as construtoras e gera alta de quase 50% nos custos da
construção civil. O Sinduscon-CE deverá conversar com as cimenteiras
para resolver o problema
O preço do cimento no mercado cearense está apresentando uma elevação preocupante e pois as construtoras não estão conseguindo adquirir o produto direto da fábrica, o que coloca em risco a execução de obras estruturantes e grande empreendimentos no Ceará. O alerta é do presidente eleito do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), engenheiro André Montenegro, uma vez que a grande maioria das construtoras filiadas estão reclamando com relação à dificuldade para a aquisição deste insumo tão importante e que representa entre 12% e 15% do custo total da obra. Além do cimento para assentamento de tijolos e blocos -, há a utilização do mesmo em concreto armado para vigas e lajes.
De acordo com presidente da entidade, quase todas as construtoras estão sentindo a falta do cimento nas fábricas, pois só conseguem comprar nas distribuidoras, cujo preço está quase 50% maior. Afinal, em outubro último, era possível adquirir um saco de 50 quilos por R$ 18,50 e, hoje, está entre R$ 25,00 e R$ 27,00. Como o cimento representa o custo mais elevado na Curva de ABC da construção (veja o quadro acima), isto é muito preocupante. “Quando temos um aumento repentino e injustificado como este, isso vai ‘na veia’ das construtoras. Afinal, elas contrataram serviços e fizeram seus orçamentos de obra com base num preço e, de repente, foram surpreendidas com este aumento”, disse Montenegro.
SIGNIFICÂNCIA
Outro fator de grande preocupação para as afiliadas do Sinduscon-CE diz respeito ao programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), do governo federal, pois seus contratos foram assinados com preços do cimento bem mais baixos e não permitem correções. “Várias associadas reclamam desta falta inesperada de cimento, colocando em risco o cronograma e a continuidade de algumas obras. Houve um aumento significativo no seu preço final, que terá de ser repassado para clientes privados e governamentais. Particularmente, os contratos do MCMV podem gerar prejuízos irreparáveis para as construtoras, pois trabalham com preço fixo e não podem ser corrigidos. Aumento nos insumos deve ser absorvido pelas empreiteiras, podendo inviabilizar a conclusão de conjuntos habitacionais”, asseverou o presidente.
Ele disse que o Sinduscon-CE deverá reunir-se com representantes das cimenteiras a fim de encontrar uma solução para este problema. Afinal, questiona “como pode estar faltando cimento nas fábricas, quando não falta nas distribuidoras e nos depósitos, onde o preço é bem maior?”. Ainda podem ocorrer atrasos nas obras para a Copa do Mundo 2014, paralisação do MCMV; aumento no valor dos imóveis para o consumidor final, e o desemprego de milhares de operários. “Parando as obras, as construtoras deixam de comprar e não temos como avaliar este impacto sobre a nossa economia. Temos 62 mil empregados no setor da construção no Ceará, número que precisa ser triplicado, devido aos fornecedores, terceirizados, pessoal de logística e outros empregos indiretos gerados”, completou André Montenegro.
FÁBRICA ESCLARECE
De acordo com a Assessoria de Imprensa do Cimento Apodi, a falta de programação por parte de algumas construtoras, aliada a um natural aumento da demanda no final do ano, tem feito com que haja falta do produto nas fábricas. “O segundo semestre possui uma maior demanda por cimento, e esta demanda tende a aumentar no último trimestre do ano. As razões são diversas, desde a corrida por parte das construtoras em entregar os empreendimentos, bem como as reformas ou construções individuais - aumento de um quarto, construção de um banheiro, fazer um muro. As fábricas de cimento não conseguem mesmo atender a todos, infelizmente. Neste ano, uma fábrica fechou as portas (CSN), deixando entre 40 a 50 mil toneladas por mês para que as demais cimenteiras absorvessem este montante, e dessem conta da demanda. Somado a isso, outra fábrica (Poty) está parada”, afirmou, em nota.
“Vale salientar que as fábricas param seus fornos com programação, para manutenção. A própria Cimento Apodi tem uma parada programada, de 12 horas, no próximo dia 3 de dezembro. Isso é fundamental para evitar paralisações mais longas, ocasionadas por defeitos graves. Alguns revendedores conseguem ter o produto em estoque porque foram buscar cimento em outras praças, como Rio Grande do Norte, por exemplo, e assim colocam cimento à venda. O que não significa que foram comprados em Pecém. Nossa fábrica está trabalhando 24 horas para atender o máximo de clientes possível. Com a inauguração de uma nova unidade, em Quixeré, no primeiro semestre de 2014, deverá aliviar esta situação, já no segundo semestre do ano que vem. A demanda é elevada neste último semestre do ano, e normaliza tão logo inicie o ano novo, já em janeiro”, completou.
MARCELO CABRAL
economia@oestadoce.com.br
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