Ensinando a fazer cocô de cócaras

Banco que reproduz posição de cócoras promete combater prisão de ventre

Cármen Guaresemin
Do UOL, em São Paulo
O banquinho acoplado ao vaso sanitário faz a pessoa ficar na posição de cócoras, ajudando a esvaziar o intestino por completo
  • O banquinho acoplado ao vaso sanitário faz a pessoa ficar na posição de cócoras, ajudando a esvaziar o intestino por completo
Você provavelmente nunca parou para pensar no assunto, mas especialistas garantem: a melhor posição para fazer necessidades é a de cócoras. A postura, utilizada pelo ser humano durante milhares de anos e ainda mantida em alguns países, favorece o relaxamento do reto e o esvaziamento completo do intestino.
Com a proposta de resgatar o hábito antigo e evitar problemas como a prisão de ventre, uma empresa está trazendo para o Brasil um banquinho de apoio para os pés projetado especificamente para reproduzir a posição.  Segundo os fabricantes do Squatty Potty,  ele leva os usuários a formar um ângulo de 35º, considerado "o mais eficiente" para esvaziar o intestino.
Para o médico Mateus Rotta, professor de coloproctologia da Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes, problemas como constipação e cólica são frequentemente atribuídos à dieta, mas se relacionam também a uma postura inadequada no banheiro, no momento de defecar.

Estudo iraniano compara

  • Divulgação A empresa que está trazendo o Squally Potty para o país cita um estudo clínico liderado pelo radiologista iraniano Rad Saeed, do departamento de ciências médicas da Universidade Tabriz, no Irã, que fez uma comparação entre o banheiro de estilo iraniano (cócoras) com o de estilo europeu (sentado no vaso sanitário).

    O objetivo era comparar a eficácia das duas posições, usando técnicas de imagem de raios-X e os relatos dos participantes do estudo. Ele descreveu suas descobertas em um relatório do impacto dos hábitos étnicos nos parâmetros defeco gráficos, publicado na revista iraniana "Archives of Medicine".

    Os resultados mostraram que a evacuação intestinal foi completa em indivíduos acostumados com o hábito iraniano (cócoras). Já para os que utilizam o estilo europeu (sentado) a evacuação foi incompleta.

    "Com o método iraniano (cócoras) o relaxamento dos músculos da região puborretal ocorreu de forma fácil e o alinhamento do reto e do canal anal facilitaram a evacuação. Por outro lado, ao evacuar 'sentado', uma curva notável é criada no reto e o relaxamente dos músculos da região foi incompleto", apontou Saeed.

    Além do ângulo do reto e do canal anal, Saeed também estudou as radiografias e mediu a posição do assoalho pélvico em ambas as situações. Ele descobriu que, na postura sentada, o assoalho pélvico foi forçado significativamente para baixo o que poderia explicar, entre outros fatores, porque disfunções pélvicas são tão comuns em países ocidentais – onde essa posição é a mais utilizada.
Hábitos errados como alimentação pobre em fibras e líquidos, falta de atividade física e o esvaziamento incompleto do intestino podem causar distúrbios como a constipação que, além de desconfortável, favorece o aparecimento de doenças. E, para ele, a postura errada também conta.

 "Evacuar de cócoras não é uma recomendação somente para pacientes com problemas de cólon. Todos deveriam preferir esta posição para aliviar o desconforto intestinal e evitar doenças", afirma Rotta.

Ele conta que pacientes têm relatado melhora com o uso do utensílio. "Tecnicamente, existe uma lógica, pois a posição relaxa a musculatura e retifica o reto, facilitando a evacuação", completa.

Com ele concorda o coloprocotologista Carlos Sobrado, do Hospital 9 de Julho, que é presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia: "Acredito que este banquinho melhora, sim, a angulação e colabora para o funcionamento do cólon".

Sobrado frisa que o produto é mais uma arma no combate à prisão de ventre e constipação. "Sabemos que as pessoas consomem poucas fibras. O correto seria que ingerissem entre 25 e 30 gramas por dia. Em 70% dos casos, só esta mudança já ajuda. Isso sem contar o aumento no consumo de líquidos e a prática de algum exercício. O produto é uma arma a mais".

Algo que ambos profissionais lembram é que as pessoas têm de respeitar os horários e desejos de evacuar. "Isso porque neste momento há um reflexo anal que facilita o ato. Se você adiar na maioria das vezes, não irá conseguir mais defecar com facilidade", avisa Sobrado.
Horário marcado

Rotta diz que é preciso habituar-se a ir ao banheiro no mesmo horário todos os dias, deste modo, educa-se o intestino. O médico comenta que, geralmente, a vontade surge um tempo depois das refeições.

No entanto, ele enfatiza que o produto não é para todos os casos. "Se o problema persiste mesmo mudando os hábitos ou se há presença de hemorroidas, é preciso comunicar ao médico".

Outro ponto positivo do produto, para os médicos, é que seu uso também fortalece o assoalho pélvico, evitando futuros problemas de incontinência. "Há estudos feitos com índias, que ficam de cócoras para fazer suas necessidades físicas, mostrando que a parede abdominal é mais forte, por isso não é comum casos de incontinência nesse grupo", afirma Sobrado.

Melhora

A estudante Nathalia Milian, de 25 anos, diz que tem intestino preso desde a adolescência, e que já tentou várias coisas como tomar iogurtes e produtos solúveis à base de fibras, sem ter muito resultado. "Ficava vários minutos no banheiro e quando terminava, ainda ficava com aquela sensação de que não havia eliminado tudo", conta ela.

Recentemente, sua família adquiriu o Squally Potty e ela tem usado o banquinho. "É como se a posição naturalmente 'empurrasse' o conteúdo do intestino para fora. Quando estou em outros lugares e preciso usar o banheiro, demoro tanto que consigo passar umas três fases do Candy Crush", brinca, citando o game.

Ela confessa que não tem uma alimentação saudável e que não prática atividades físicas no momento, porém, o produto tem ajudado. "É muito comum as pessoas levarem este assunto para o lado do humor, mas o banquinho é algo simples e que ajuda mesmo!", encerra.
Já a professora Ana Cristina Teixeira de Oliveira Ariza, de 48 anos, conheceu o Squatty Potty durante uma consulta com um proctologista que indicou a ela o produto.
A professora o utiliza desde setembro de 2013 e tem achado o resultado muito bom. "Ele me ajuda especialmente quando tenho mais dificuldade e fico dias sem conseguir ir ao banheiro".
Ela conta que procura ter uma alimentação com bastante fibra, toma muito líquido e pratica exercícios físicos, além de ter sempre um horário fixo para usar o banheiro. "A posição ajuda muito. Ele veio para acrescentar facilidade à minha rotina diária. Eu o recomendo".
O Squally Potty, por enquanto, só é encontrado no site da ProctoShop e custa R$ 190,00. Veja abaixo desenho simulando como a posição de cócoras melhora o funcionamento do cólon:
  • Divulgação/Arte UOL
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