A BALANÇA E A CHIBATA
Mauro Santayana
(HD)
- Nos últimos dias, pela enésima vez - quem não se lembra do massacre
do Carandiru? - a situação das prisões brasileiras foi manchete na
internet e nos mais importantes jornais do mundo.
Junto aos textos,
as imagens dos cadáveres decapitados de Pedrinhas, no Maranhão, e a
informação de que a cada dois dias - sob a guarda do Estado - um
prisioneiro é assassinado no Brasil.
Os números não se referem aos
que são espancados por outros presos ou agentes e policiais. Ou aos que
falecem devido a enfermidades - muitas delas contagiosas - que se
espalham como peste nas celas superlotadas. Ou aos que são feridos
quando detidos e morrem por falta de assistência médica ou remédios.
Em boa parte do mundo, a primeira preocupação de um condenado é contar quantos dias, meses e anos faltam para a sua liberdade.
No
Brasil, a não ser que seja o “xerife” ou faça parte de alguma facção - o
que não é garantia de nada, como se viu no Maranhão - a primeira
preocupação de um preso é evitar, minuto a minuto, ser espancado,
estuprado ou assassinado por seus colegas de cela.
Ele não poderá
jamais, mesmo se tivesse espaço para isso, dormir tranqüilo. E da sua
relação com os agentes penitenciários, dependerá, a cada momento, seu
futuro.
Uma simples transferência de cela ou de galeria feita, a
qualquer instante, pelo carcereiro de plantão, pode representar a
diferença entre vida e morte, relativa integridade física e uma surra de
criar bicho, ou algo muito pior.
Isso, considerando-se que
esse indivíduo tem grande chance de ser preso provisório, que, sem culpa
oficialmente formada, está aguardando julgamento, às vezes por meses ou
anos.
Que crime ele cometeu, para cumprir cadeia nessas
condições? O crime de ter nascido em um país em que se prende, e se
condena, pelo furto de dois pacotes de biscoitos ou um xampu, e se envia
o suspeito, em poucas horas, para uma cela cheia de traficantes
assassinos.
Ter nascido em um país no qual o suspeito é tratado,
na prática, como culpado até prova em contrário, e em que, segundo certa
jurisprudência, cabe ao réu provar que foi torturado quando o acusado
pela tortura for agente do estado.
Um país em que boa parte da
população acha que a violência deve ser combatida na base do “olho por
olho, dente por dente”. E acredita que diminuindo a maioridade,
aumentando as sentenças e adotando a pena de morte resolveremos o
problema, embora tenhamos a polícia que mais mata no mundo e a quarta
população carcerária do planeta, e a criminalidade e a violência
continuem aumentando a cada ano.
O crime de ter nascido em um país em que a polícia e a justiça se originaram na Santa Inquisição e nos Capitães do Mato.
Em
uma Nação na qual alguns juízes, continuam agindo como se, entre nós, a
Justiça trouxesse a balança em uma mão, e na outra, uma chibata.
E a chibata fosse muito mais usada.
Mauro Satayana é jornalista e meu amigo
Nenhum comentário:
Postar um comentário