Mauro Santayana
O BRASIL DE DAVOS E DE MARIEL
A presidente Dilma foi a Davos, na Suiça, para reunir-se, entre
outras personalidades, com o presidente do país, Didier Burkhalter, o do
grupo SAAB - sócio brasileiro no projeto dos caças Gripen NG - Hakan
Buskhe, o da FIFA, Joseph Blatter, e CEOs de grandes multinacionais,
como a UNILEVER e a NOVARTIS.
E de lá, para Havana, Cuba,
para se encontrar com líderes do continente, na reunião da CELAC -
Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe, e participar, junto
ao Presidente Raul Castro, de uma cerimônia emblemática: a inauguração
da primeira etapa do terminal de containers e da Zona Especial de
Desenvolvimento de Mariel, junto ao porto do mesmo nome, financiado com
dinheiro brasileiro e construído por empresas nacionais de engenharia -
que geraram, com o projeto, 198.000 empregos no Brasil - em associação
com firmas locais, no valor aproximado de um bilhão de dólares.
O
objetivo do Brasil, no Fórum Econômico de Davos, foi esclarecer aos
investidores que, com relação à economia, por aqui o diabo não está tão
feito quanto aparenta ou querem fazer que pareça. Nas conversas com
investidores, os representantes brasileiros devem ter apresentado dados
como a queda da inadimplência, o aumento da arrecadação, e a manutenção,
no ano que passou, do Investimento Estrangeiro Direto em um patamar
acima de 60 bilhões de dólares por ano, quase o mesmo, portanto, que o
de 2012.
Já, em Cuba, o papel do Brasil foi o de dar novo
exemplo de seu “soft power” regional, exercido também por meio de
grandes projetos de infra-estrutura, voltados para melhorar as condições
de vida de nossos vizinhos e parceiros, e integrar, pelo
desenvolvimento, a América Latina.
O que paraguaios,
bolivianos, peruanos, equatorianos, e mexicanos viram, paralelamente à
reunião da CELAC, quando tomaram conhecimento da dimensão do projeto de
Mariel - onde devem se instalar empresas brasileiras a partir do ano que
vem, para montar produtos destinados às Américas e ao Pacífico,
aproveitando a vizinhança do Canal do Panamá - não é muito diferente do
que o Brasil já faz em seus respectivos países.
Basta lembrar
o recém inaugurado linhão elétrico de 500 kV entre Itaipu e Assunção,
que permitirá, finalmente, a industrialização do Paraguai; o gasoduto
Bolivia-Brasil, que gera, com a exportação de gás, boa parte do PIB
boliviano; os corredores ferroviários e rodoviários bioceânicos, em fase
de implantação, que nos levarão ao Peru, Bolívia e Chile, e por meio
deles, ao oceano Pacífico; as obras do metrô de Quito, no Equador, que
também tem participação brasileira; ou o maior projeto petroquímico em
construção no México, que está sendo tocado, em associação com empresas
locais, pela Braskem.
Para muita gente, o Brasil de Mariel,
que tem consciência de sua dimensão geopolítica na América Latina, é
incompatível com o Brasil de Davos, que, muita gente também acredita,
deveria se sujeitar aos Estados Unidos e à Europa, em troca de capitais,
acordos e investimentos.
Essa visão limitada, tacanha,
defendida tanto por alguns setores da oposição, quanto por gente do
próprio governo e da base aliada - já foi ultrapassada pelos fatos e
deveria ser abandonada em benefício de um projeto de nação à altura de
nosso destino e possibilidades.
Quanto mais poder tem um
país, mais razões ele tem para ser pragmático, múltiplo, universal, no
trato com as outras nações. Não podemos fechar as portas para ninguém,
nem deixar de ter contato ou de fazer negócios com quem quer que seja,
desde que essa relação se faça em igualdade de condições.
O
que não deve impedir, nem limitar, nosso direito de eleger,
estrategicamente, prioridades e alianças, específicas, no âmbito
internacional, que nos permitam alcançar mais rapidamente nossas metas
de fortalecimento do Brasil e de melhora das condições de vida da
população brasileira.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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