Atenção,
leitores! Abaixo, segue uma lista de Estados brasileiros que têm uma
taxa de homicídios superior ou igual, com variante depois da vírgula, à
dos presídios brasileiros. O número que aparece entre parênteses é o de
mortos por 100 mil habitantes. Todos os dados são do Anuário Brasileiro
de Segurança Pública e dizem respeito a 2012:
- Alagoas (61,8)
- Bahia (40,7)
- Ceará (42,5)
- Pará (44,6)
- Paraíba (39,3)
- Sergipe (40)
- Bahia (40,7)
- Ceará (42,5)
- Pará (44,6)
- Paraíba (39,3)
- Sergipe (40)
E a
realidade pode ser, acreditem, bem pior. Por quê? A população carcerária
tem necessariamente mais de 18 anos — vale para quem mata e para quem
morre. Se, cá fora, formos verificar a taxa de homicídios excluindo-se
as pessoas abaixo dessa faixa etária, a base ficaria reduzida a mais ou
menos 65%. Logo, a taxa de homicídios por 100 mil cresceria bastante.
Inclusive a
brasileira. Segundo o anuário, em 2012, a taxa de homicídios no Brasil
foi de 25,8 por 100 mil — tendo por base uma população estimada em 194
milhões. Se formos excluir a população abaixo de 18 anos, esses 194
milhões ficariam reduzidos a pouco mais de 126 milhões. Aí, meus caros, a
taxa brasileira subiria de 25,8 por 100 mil para 39,7 — ligeiramente
superior à dos presídios.
Mas
esperem! Praticamente 100% dos mortos nos presídios são homens. Se
formos excluir as mulheres da base de dados da população brasileira, aí a
coisa assume proporção escandalosa. Fantasio? Não mesmo! Consultem o
anuário. A taxa de homicídios por 100 mil de jovens na faixa entre 15 e 19 anos é de 45,7; entre 20 a 24, de 63,7; entre 25 a 29, de 54; entre 30 a 34,
de 43,7 — todas elas superiores à taxa nos presídios. Reitero: a
esmagadora maioria dos mortos é formada por homens, e a conta dos 100
mil habitantes inclui também as mulheres, o que acaba mascarando os
números.
Assim,
ainda que os presídios brasileiros sejam verdadeiras pocilgas; ainda que
a vida por lá seja um inferno; ainda que se assista permanentemente a
um show de horrores, a verdade é que os fatos, à luz da matemática,
estão a nos dizer que, em muitos lugares do Brasil, é mais perigoso
estar fora da cadeia do que dentro.
Nem
poderia ser diferente. Em 2012, houve no Brasil 50.108 homicídios. É
claro que a desgraça dos presídios deve nos constranger a todos; é claro
que devemos cobrar uma resposta das autoridades. Mas é preciso deixar
claro que, em certas faixas etárias, especialmente na população
masculina, há um inferno ainda mais rigoroso fora das cadeias.
A campanha
eleitoral está chegando. Quem vai se interessar pelo assunto? Daqui a
pouco, começa aquela espetáculo virtual de amanhãs sorridentes na
propaganda política.
A cada
dois dias, morre assassinado um preso no Brasil. A cada dia, morrem
assassinados 137 brasileiros fora das cadeias. E o que se houve é apenas
o silêncio cúmplice. O tema nem sequer está na agenda dos políticos.
Por Reinaldo Azevedo
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