Rapadura dá sabor regional a cerveja brasileira premiada no exterior
Priscila Tieppo
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Explorar sabores regionais, como o desse produto feito a partir de cana-de-açúcar, é uma tendência no mercado de cervejas e vem ajudando o Brasil a se promover internacionalmente no segmento, afirma a sommelier Celine Saorin, especializada nesse tipo de bebida.
É o que vem fazendo a Colorado, fabricante de cervejas especiais, que compra mensalmente entre 300 e 500 quilos da rapadura artesanal feita por Maria Joana e pelo marido, José Batista, 67. É quase toda a produção do casal, que prepara quase 600 kg do doce por mês, a partir da cana cultivada em seu sítio na cidade, localizada a 313 km da capital paulista.
"A rapadura preparada pelo casal é um produto artesanal, de boa qualidade e feito próximo da cervejaria, o que facilita e valoriza a produção local", afirma Ronaldo Nascimento, presidente da cervejaria.
A Colorado começou a comprar o produto do casal em 2007, quando foi produzida a primeira cerveja da empresa que leva rapadura, a Indica.
A produtora já provou as cervejas e diz ter gostado. "A Vixnu é mais amarga, mas dá pra identificar o gosto da minha rapadura", afirma Maria Joana Castro, que produz o doce há mais de uma década. O volume que não é entregue à cervejaria é vendido no mercado de Ribeirão Preto por R$ 6 o quilo.
De acordo com Nascimento, o fato de ser uma produção realizada de forma tradicional, que resulta em uma rapadura saborosa, pesou na escolha do fornecedor.
Para o preparo da rapadura, a cana é moída para extração do caldo, que é fervido até virar melado e então batido, para ganhar mais consistência. Depois, é mantido em formas até endurecer e esfriar, ficando com o formato de um tijolo.
A rapadura é usada no preparo de cerca de 30 mil litros das duas cervejas por mês. "As duas estão crescendo em vendas. A Indica é uma das cervejas mais procuradas nas lojas e a Vixnu já é exportada para os Estados Unidos e França", diz o presidente da empresa.
No exterior, como não há uma palavra em inglês que identifique o doce, a rapadura é chamada no rótulo de "brazilian brown sugar". "Eles não sabem o que é, mas o fato de ser brasileiro já chama a atenção", diz Ronaldo Nascimento.
Explorar sabores locais é tendência do mercado de cerveja, diz sommelier
Para Cilene Saorin, sommelier de cervejas e presidente da Cobracem (Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte), as duas cervejas feitas pela Colorado com rapadura têm personalidades próprias."Elas trazem o equilíbrio entre o amargor e o gosto da rapadura. A Indica, por exemplo, tem o gosto da rapadura no fim do gole, que dá o contraponto. Já a Vixnu, tem teor alcoólico maior", afirma.
Ao usar produtos brasileiros na composição das cervejas, diz Cilene Saorin, as empresas seguem uma tendência mundial. "Explorar o que é do Brasil, a riqueza gastronômica do país, é interessante e inteligente. Isso acontece no mundo todo e dá chance para que a cerveja brasileira conquiste o mercado internacional", afirma.
A legislação brasileira não permite que alguns ingredientes sejam usados na fabricação de cervejas --como mel, leite e ervas, por exemplo--, embora algumas empresas tenham obtido liminares para o uso em suas formulações. O governo fez um acordo com as indústrias para modernizar a lei, e a proposta para consulta pública com essas alterações já foi publicada.
A
pedido do UOL, o mestre-cervejeiro e sommelier de cervejas Ronaldo
Rossi indica 5 cervejas nacionais artesanais para experimentar;
fabricada no Paraná, a Way Amburana Lager leva o nome da madeira na qual
é envelhecida (Amburana Cearensis), tem 8,4% de teor alcoólico e sabor
levemente amargo (R$ 13 a garrafa de 310 ml) Way Beer/Divulgação
Nenhum comentário:
Postar um comentário