Obama promete agir sem aval do Congresso
Em tom assertivo, ele disse que assinará mais "ordens executivas" (equivalente às medidas provisórias no Brasil) para destravar projetos paralisados, ainda que vários analistas considerem essas ferramentas limitadas.
Foi na noite de terça (madrugada de quarta em Brasília), durante o mais importante discurso presidencial do ano, o do "Estado da União", quando os presidentes americanos apresentam suas prioridades e propostas legislativas, com o Congresso repleto, diante de senadores, deputados, todos os ministros e juízes da Corte Suprema.
Larry Downing/AFP |
Obama faz o tradicional discurso do Estado da União, no qual apresenta prioridades para o ano |
Parte do discurso focou o crescimento da desigualdade no país –enquanto o controle de armas foi reduzido a um parágrafo do discurso. O presidente afirmou que, depois de quatro anos de crescimento econômico, "lucros corporativos e o valor das ações na Bolsa raramente estiveram tão altos, e aqueles no topo nunca se deram tão bem. Mas os salários médios mal se mexeram. A desigualdade se aprofundou. A ascensão social está paralisada".
Foi quando ele falou de como pretende trabalhar com o Congresso. "Vamos fazer deste um ano de ação. Ofereço propostas concretas e práticas para acelerar o crescimento, algumas das quais exigem a ação do Congresso. Mas onde e quando eu puder dar passos sem o Legislativo para expandir as oportunidades para mais famílias, é isso que irei fazer", discursou.
Em sua fala, Obama também admitiu que, mesmo com a recuperação econômica, com "o menor desemprego em cinco anos" e a "maior produção de petróleo em casa por 20 anos", "muitos americanos estão trabalhando mais que nunca para sobreviver, e muitos nem têm trabalho".
Obama amarga os piores índices de popularidade em 5 anos de mandato e enfrenta eleições legislativas em novembro, onde o governo deve continuar em minoria na Câmara, mas ainda corre o risco de perder a atual maioria no Senado.
Diversos convidados do presidente, de uma mãe desempregada a um dono de uma pizzaria que aumentou o salário de seus funcionários, serviram de "personagens" presentes ao discurso de Obama.
Ele deixou a política externa para o final. Houve apenas uma rápida referência às Américas (sem citar um único país da América Latina), dizendo que "novos laços de comércio estão sendo construídos, junto com mais intercâmbios educativos e culturais entre nossos jovens".
O Oriente Médio dominou essa parte do discurso. Comemorou a retirada das tropas americanas do Iraque (sem citar o caos atual no país) e a redução da presença militar no Afeganistão. E disse que foi a "diplomacia" que colocou o Irã na mesa de negociação para limitar seu programa nuclear e que fez a Síria entregar seus armas químicas.
Obama prometeu vetar novas sanções contra o Irã, caso o Congresso aprove um projeto nesse sentido. "Temos que dar uma chance à diplomacia", discursou.
Disse que esperava que o Congresso "finalmente aprove o fechamento da prisão de Guantanamo". E homenageou um sargento gravemente ferido no Afeganistão. A revisão da espionagem da NSA, que passará pelo Congresso, também foi citada rapidamente, "respeitando a privacidade de americanos e cidadãos do mundo".
Obama defendeu seu plano de saúde, citando milhões que agora terão cobertura, sem citar o lançamento desastrado do portal do sistema. E disse para a oposição, que ainda sonha cancelar o plano, "não ficar lutando velhas batalhas".
O discurso se transformou numa enorme operação de marketing para os dois lados. Vários membros do governo Obama debateram nas redes sociais os temas do discurso, enquanto a oposição lançou três respostas televisionadas contra as propostas do presidente: uma do Partido Republicano, outra do movimento ultraconservador Tea Party e uma republicana em espanhol.
Obama fez referências elogiosas a dois de seus maiores opositores, o presidente da Câmara, John Boehner, e ao senador Marco Rubio, em uma rara manifestação pública suprapartidária no atual ambiente polarizado de Washington. O presidente é normalmente acusado de não se esforçar em dialogar com a oposição.
No ano passado, o discurso foi visto por 33 milhões de telespectadores –número digno de finais de campeonatos esportivos e bastante acima das séries e seriados mais populares da TV americana.
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