Severa e exemplar, por Luiz Garcia
Luiz Garcia, O GloboAnos atrás, dizia-se no Brasil que só pobres iam para a cadeia, com a rara exceção dos ricos que cometiam crimes contra os mais ricos. Mesmo assim, nem sempre: se o ladravaz devolvia o que roubara, teria boas chances de cumprir penas simbólicas ou quase isso. Principalmente se pertencesse ao partido no poder.
Mas os tempos são outros. Está chegando ao fim o processo sobre o atentado do Riocentro — apenas 33 anos depois, o que só escandaliza os cidadãos ingênuos que ainda acreditam que a Justiça deveria ter a mesma agilidade para todos os réus, pobres ou ricos, poderosos ou desconhecidos.
Entre os acusados está o general Newton Cruz, na época homem forte do Serviço Nacional de Informações, que fazia mais do que informar o Palácio do Planalto sobre fatos de interesse do Executivo: também os criava.
General Newton Cruz
No caso do Riocentro, o atentado tinha, obviamente, o objetivo de desmoralizar a oposição popular, principalmente de jovens e intelectuais, ao governo federal. Acabou sendo um instrumento — entre muitos outros — de desmoralização dos ocupantes do poder. Com destaque para Newton Cruz, acusado de ser o cérebro, por assim dizer, do plano sinistro, e hoje reformado.
Até hoje não se sabe se Cruz é o único responsável pelo atentado. Ele não confessa participação na conspiração: apenas admite que soube dela uma hora antes. É um álibi esfarrapado. O Ministério Público Federal acaba de pedir 36 anos de cadeia para Newton Cruz.
Por saber e não agir, Cruz praticamente ajudou os criminosos. Vamos ver se receberá a punição que merece. Se não for severa, não será exemplar.
Luiz Garcia é jornalista.
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