A ARAPUCA DA COPA
Mauro Santayana
(Hoje em Dia) - Pudesse voltar atrás, e
talvez o Presidente Lula não tivesse apresentado a candidatura do país à
Copa do Mundo de 2014.
Os problemas que o Brasil tem enfrentado
são tantos – e a resistência a tudo que cheire a Panem et Circenses tão
grande, nos dias de hoje, que até a capital da Suécia, uma das nações
mais ricas do mundo, acaba de recusar - com certeza alertada pelo que
está ocorrendo em nosso país - o polêmico privilégio de sediar as
Olimpíadas de Inverno de 2022, com a justificativa de economizar
recursos públicos.
Com sua ingenuidade, lassidão e, as vezes,
“salto alto” – pura arrogância e soberba, segundo seus inimigos – o PT
não percebeu, em 2007, que, em política, toda vitória aparente pode ser
usada contra o vitorioso, até prova em contrário. Que o mel que se
oferece hoje ao povo, pode se transmutar rapidamente em fel quando não
se presta atenção aos detalhes. E que – como no caminho da Chapeuzinho
para a casa de sua avó - existem mais percalços que se possa imaginar
entre o sonho e a realidade.
Considerando-se os recursos que
envolvia, e sua importância estratégica para o governo e a Nação, a Copa
deveria ter sido tratada - sem licitação ou terceirização - do
planejamento à execução, como uma operação de Estado.
Se o
governo tivesse constituído uma estatal binacional com a China,
aproveitando a experiência de Pequim na organização das Olimpíadas, os
estádios, por exemplo, estariam prontos em poucos meses e seu custo não
seria de um centavo a mais que o previsto.
Na comunicação, a Copa
continua sendo tratada como festa e não como um projeto nacional com
investimento, retorno, criação de empregos e renda definida, e os altos e
baixos na relação com a FIFA beiram o improviso.
Enquanto isso,
cidadãos voltam às ruas, e com eles, episódios absurdos e
constrangedores, como o protagonizado por soldados da PM contra um
manifestante em São Paulo.
Os soldados envolvidos poderiam alegar
que estavam sendo ameaçados, se estivessem correndo do rapaz – como foi
o caso do coronel agredido por manifestantes em junho - e não o
contrário.
Cercado por homens fardados, armados e perigosos, que o
perseguiam, com a evidente intenção de agredi-lo, e – como se viu pelo
vídeo – provavelmente, matá-lo, era o rapaz – mesmo que estivesse
portando um estilete – que estava em situação de legítima defesa, e não
os soldados.
Nunca é demais repetir, enganam-se aqueles que
pensam que os protestos contra a Copa irão beneficiar, de alguma forma, a
oposição.
Primeiro, porque nos estados que comanda e que
sediarão jogos, a oposição – a exemplo do próprio governo - virou
vidraça para as pedras - que não possuem rumo certo ou filiação
partidária - da ala mais radical dos manifestantes,
E,
também, porque a oposição não pode fingir apoiar os “anti-copa”,
enquanto sua polícia persegue e acua, agride, ataca e atira em quem
protesta contra o evento, como vimos em São Paulo.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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