Editorial do jornal O Globo

Mazelas de uma aliança feita à base do fisiologismo (Editorial)

O Globo
O mal-estar entre PMDB e PT vem de longe, alimentado pelo choque entre a vocação petista à hegemonia e o cuidado peemedebista em sempre estar bem localizado nas proximidades dos cofres públicos, para manter a rede de influência estendida em estados e municípios.
É por este motivo que o PMDB prescinde da Presidência da República, cargo que implica ônus específicos, desde que seja um aliado preferencial de quem a ocupe.
O bochicho protagonizado em camarotes da Marquês de Sapucaí pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, da tropa de choque do governador Sérgio Cabral, apenas deu um tom de briga de rua ao velho conflito.
Segundo o jornal “O Dia”, ao ser perguntado, no Sambódromo, sobre o que achava de Picciani ser favorável ao apoio ao tucano Aécio Neves nas eleições presidenciais, Falcão atingiu um nervo exposto do partido quando relacionou esta opinião ao fato de o presidente regional da legenda ser ligado ao deputado Eduardo Cunha, também do Rio de Janeiro, líder da bancada na Câmara, considerado cabeça do movimento por mais cargos na reforma ministerial em curso, executada para sedimentar apoios a Dilma nas urnas de outubro.
(Registre-se que, de fato, o deputado é conhecido pela volúpia com que se lança a obter vantagens na máquina pública.)
Em resposta, Picciani chamou Rui Falcão de “vagabundo”. Pode ser que o presidente do PT tenha agido como passista de frevo em loja de cristais. Mas este conflito só tende a se agravar, à medida que a presidente Dilma resista a ceder um quinto ministério ao “aliado”, o da Integração Nacional, entre outros mimos.
E se mantenha firme em só entregar a Pasta ao líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), para retirá-lo da disputa pelo governo do Ceará, uma ajuda ao aliado Cid Gomes (PROS). Há diferenças entre os dois partidos em vários Estados.
Outro é o próprio Rio, em que o senador petista Lindberg Farias se lança ao Palácio Guanabara contra o candidato de Cabral, o vice Pezão, mais um motivo para peemedebistas fluminenses, Eduardo Cunha à frente, prometerem trabalhar pela saída do partido da base do governo e da aliança petista às eleições.
Na verdade, o lulopetismo colhe problemas do fisiologismo que semeou no campo fértil da eclética aliança partidária que articulou, da direita trevosa à esquerda delirante. Esta é uma obra de engenharia política mantida em pé só mesmo pelo toma lá, dá cá do fisiologismo.
E como político é, em geral, movido pela expectativa de poder, a perspectiva de o PT enfrentar a mais difícil das eleições presidenciais desde a de 2002, devido às dificuldades na economia, a tendência à traição é maior.
A simples percepção de alguma viabilidade de candidatos de oposição excita aqueles peemedebistas e outros da base que jamais se preocuparam com projetos de governo, apenas com as benesses do poder. O PT os acostumou mal. Um dos problemas das alianças fisiológicas é que os aliados se mantêm unidos só nos bons momentos.

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