Os 'catecismos' de Zéfiro
Chegou a hora e a vez de a academia homenagear o funcionário público que no recesso do lar, à noite, quando a mulher dormia, produzia as revistinhas de saliência que eram lidas dentro de catecismos para se manter o segredo de polichinelo. A historiadora Erika Natasha Cardoso está concluindo o mestrado em História na UFF que tem o objetivo de relacionar a obra de Carlos Zéfiro — pseudônimo do carioca Alcides Aguiar Caminha (1921-1992) — considerado um transgressor pelos mais recatados — com a moral do período em que ela circulou de forma mais expressiva no país, ao longo das décadas de 1950 e 1960. Ela conversou com Jorge Antonio Barros, da turma da coluna, que, danadinho, conheceu a obra de Zéfiro nos bons tempos da adolescência.
Seu orientador, Daniel Aarão Reis Filho, diz que Zéfiro era um pedagogo.
Com certeza. As próprias fontes da minha pesquisa confirmam que Zéfiro era um grande professor de “sacanagem”. Era profundamente didático, e muita gente aprendeu com ele, por exemplo, posições sexuais, dicas de higiene. O grande forte dele era a verdadeira aula de sedução.
Até que ponto a repressão sexual vigente favoreceu o sucesso de Zéfiro?
De fato, na década de 50, crianças e adolescentes não tinham acesso sequer a ver pernas de fora, como alguns adultos conseguiam nos teatros de revistas no Centro do Rio. E os “catecismos” foram perdendo a força com a chegada de revistas com fotografias coloridas, suecas e dinamarquesas. Mas a técnica narrativa de Zéfiro foi também muito importante para sua popularização.
Afinal, os “catecismos” são pornografia ou erotismo?
Não faço essa distinção a partir do conteúdo, já que o conceito de pornografia muda muito. Livros como “Ulysses”, de James Joyce, e “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, já foram considerados pornográficos. O próprio Zéfiro disse certa vez que pornografia era o que acontecia depois de alguns bailes no subúrbio de Anchieta, onde ele morava.
EM TEMPO...
Alcides, cujo pseudônimo foi revelado por Juca Kfouri, em 1991, é parceiro de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito no clássico “A flor e o espinho”. Mas aí é outra história.
Penso eu - Fonte inspiradora dos meninos de 1946, nascidos também em Sobral.
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