Opinião

A volta de Bachelet e a Aliança do Pacífico
Mauro Santayana

A chilena Michelle Bachelet tomará posse, hoje, pela segunda vez, com a presença de aproximadamente 20 chefes de Estado, como presidente da República do Chile. A volta de Bachelet, da coalizão de centro-esquerda Nova Maioria, ao Palácio de La Moneda, e a saída do conservador Sebastián Piñera representam nova derrota para a política norte-americana na região. Além de um duro golpe para a Aliança do Pacífico, factoide criado pelos espanhóis e norte-americanos para funcionar como espécie de contraponto ideológico e midiático ao projeto, empreendido pelo Brasil e por outras nações, de união e integração continental.

Preocupados em marcar presença, os EUA enviaram o vice-presidente Joe Biden a Santiago. O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, fez questão, também, de comparecer pessoalmente, depois de passar pelo Equador, onde, fiel à sua aliança com Madri, foi convidar Rafael Correa para participar da cúpula “ibero-americana” — outro factoide espanhol, cada vez mais desprestigiado — que será realizada no México, em Veracruz, no segundo semestre.

Convidado por Bachelet, para compor seu governo, o novo ministro chileno das Relações Exteriores, Heraldo Muñoz, já deixou claro que haverá clara guinada na área, que deverá privilegiar a política regional e a recuperação do diálogo com os países mais próximos.

A nova presidente chilena sabe muito bem quais são as diferenças entre o Brasil e a Aliança do Pacífico
O deputado e ex-embaixador Luís Maira, um dos principais conselheiros de Bachelet em política externa, foi ainda mais direto. Acusou o governo Piñera de ter feito um estrago no âmbito das relações entre o Chile e seus vizinhos da América do Sul, com a intensificação dos conflitos territoriais com o Peru e a Bolívia; o distanciamento do Equador; e um quadro de relações virtualmente congeladas com o Brasil e a Argentina.

No caso particular de Brasília, a reaproximação não se fará, no entanto, apenas devido à afinidade pessoal e política entre Bachelet e Dilma. Pragmática e, sobretudo, inteligente, e sem a cegueira do preconceito ideológico, a nova presidente chilena sabe muito bem quais são as diferenças entre o Brasil e a Aliança do Pacífico, as forças e as condições que estão em jogo.

Ela tem conhecimento de que o México, nos últimos anos, deixou de contar entre os dez principais importadores de produtos chilenos. Assim como sabe que a corrente de comércio entre o Brasil e o Chile é quase o dobro da que existe entre chilenos e mexicanos. E não precisa ser empresária para entender que a confiança de chilenos e mexicanos na economia brasileira é tão grande que o Brasil é o principal destino de investimentos chilenos no exterior, e o mesmo com relação aos mexicanos, no âmbito latino-americano. Ou que o Brasil cresceu mais que o dobro do México nos últimos 12 meses, ou ter em mente que — com todos nossos eventuais problemas — ainda somos a sétima economia do mundo — maior que toda a Aliança do Pacífico reunida — e o segundo maior mercado consumidor das Américas, depois dos EUA.

É improvável que o Chile abandone a Aliança do Pacífico devido à volta de Michelle Bachelet ao Palácio de La Moneda. Mas Santiago se reaproximará decididamente da Unasul e do Mercosul — organização da qual o Chile toma parte como membro associado — e vai abandonar a tática — tão a gosto de Piñera — de pintar de dourado o andor de papelão da Aliança do Pacífico, colocando-o em elevado pedestal.


Mauro Santayana é jornalista e meu amigo
Escrito em 12.03.2014

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